CVM exige acesso a documentos sigilosos da Ambipar em processo de recuperação judicial
Regulador do Mercado questiona discrepâncias no caixa da empresa e busca esclarecimentos urgentes para proteger investidores
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia responsável pela regulação do mercado de capitais no Brasil, deu um passo decisivo nesta sexta-feira (7) ao recorrer à Justiça para obter acesso integral aos autos da recuperação judicial da Ambipar Participações e Empreendimentos S.A. (AMBP3). O pedido, protocolado na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, reflete preocupações crescentes sobre a transparência financeira da companhia de gestão de resíduos, que entrou em crise apenas meses após reportar um caixa robusto de R$ 4,7 bilhões. Essa movimentação da CVM não só destaca falhas na prestação de contas obrigatórias, mas também levanta questões sobre a governança corporativa em um setor estratégico para a sustentabilidade ambiental e econômica do país.
A petição, assinada pela procuradora federal Luciana Silva Alves, argumenta que a Ambipar falhou em fornecer documentos essenciais à autarquia, como as demonstrações contábeis mais recentes preparadas para o pedido de recuperação judicial, contratos com instituições financeiras, detalhes sobre credores específicos e a lista completa de empregados. Esses materiais, conforme a legislação do mercado de capitais, devem ser encaminhados obrigatoriamente à CVM em casos de empresas de capital aberto como a Ambipar. “Dúvidas pairam sobre se tais documentos apenas deixaram de ser encaminhados à CVM ou se, também, deixaram de ser apresentados em juízo”, enfatiza o texto da petição, sublinhando a urgência de uma análise regulatória para evitar prejuízos a investidores e ao ecossistema financeiro.
O contexto da crise da Ambipar remonta a 24 de setembro de 2025, quando a empresa protocolou o pedido de recuperação judicial na Justiça fluminense, alegando insustentabilidade financeira decorrente de um contrato de swap cambial com o Deutsche Bank. Esse instrumento derivativo, segundo a companhia, gerou chamadas de margem adicionais, culminando em uma demanda de R$ 60 milhões no dia seguinte – valor que, se não pago, poderia acionar o vencimento antecipado de dívidas totais estimadas em R$ 11 bilhões. A decisão judicial de deferir o pedido, em 30 de outubro, suspendeu execuções de credores por 180 dias e concedeu 60 dias para a apresentação de um plano de reestruturação, mas manteve sob sigilo um envelope lacrado com informações sobre o caixa da empresa – dados que nem credores nem a CVM tiveram acesso até o momento.
O que mais intriga o mercado e o regulador é a discrepância temporal e financeira: as demonstrações contábeis do segundo trimestre de 2025 (encerrado em 30 de junho), divulgadas em agosto, pintavam um quadro de solidez com R$ 4,7 bilhões em caixa consolidado. No entanto, apenas quatro meses depois, a Ambipar invocou o pressuposto de “crise econômico-financeira” para justificar a recuperação judicial. “Especificamente no caso da Ambipar, a obtenção e análise deste documento pelo regulador assume especial relevância diante do fato de que as últimas demonstrações contábeis intermediárias apresentadas à CVM e aos investidores [...] apresentam um quadro com elevado caixa consolidado (cerca de R$ 4,7 bilhões). Este quadro destoa do contexto de uma companhia que, apenas 4 (quatro) meses depois, ingressa com pedido de recuperação judicial”, argumenta a CVM na petição, reforçando que o sigilo não se aplica a órgãos reguladores como ela.
Além do processo no Brasil, a Ambipar também requereu proteção nos Estados Unidos em 21 de outubro de 2025, ampliando o escopo da crise para jurisdições internacionais. A companhia, que atua em 15 países na América do Sul, Europa e África, enfrentou investigações paralelas da CVM por supostas irregularidades em operações de swap conduzidas pela antiga diretoria – irregularidades que, segundo uma ata não divulgada inicialmente, foram aprovadas pelo conselho de administração em reuniões anteriores à crise. Essa revelação, reportada por veículos como o Seu Dinheiro, expõe potenciais falhas de governança e alimenta especulações sobre o paradeiro do caixa reportado.
Nas redes sociais, o caso ganhou tração imediata. Perfis como o do Economia Estadão (@EstadaoEconomia) destacaram o pedido da CVM em postagens recentes, gerando debates sobre a credibilidade do mercado de capitais. Usuários no X (antigo Twitter) questionam se o episódio reflete uma supervisão frouxa da autarquia, com menções a figuras como o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em discussões sobre impactos macroeconômicos. Outros posts, como os do economista Guilherme Carvão (@CarvaoGuilherme), apontam para o aumento de 30% no fluxo de aluguel das ações AMBP3 desde setembro, sinalizando apostas pesadas em queda e volatilidade extrema – as papéis, que subiram 857% em 2024, despencaram para níveis de “penny stock” em outubro de 2025.
O impacto se estende a credores institucionais: pelo menos quatro fundos de pensão públicos podem registrar perdas significativas, conforme apuração exclusiva da Broadcast, enquanto bancos como Santander (exposição de R$ 663 milhões), Banco do Brasil (R$ 352 milhões) e Bradesco (R$ 165 milhões) enfrentam provisões potenciais que poderiam corroer até 3% de seus lucros trimestrais, segundo analistas do Citi. Debenturistas, em assembleia recente, ratificaram o vencimento antecipado de títulos de R$ 2 bilhões com prazo original para 2029 e contrataram assessoria jurídica para o processo.
A divulgação do balanço do terceiro trimestre de 2025, originalmente prevista para 13 de novembro, já é dada como certa para adiamento pela empresa – um movimento que, somado ao pedido da CVM, pode intensificar a pressão sobre a Ambipar para maior responsabilidade Fundada em 1993 e listada na B3 desde 2020, a companhia é um player chave na gestão ambiental, com histórico de aquisições agressivas (14 nos últimos cinco anos) e foco em emergências como o rompimento de Brumadinho. No entanto, o episódio atual expõe vulnerabilidades em um setor regulado que intersecta economia verde e finanças, demandando reformas para fortalecer a confiança de investidores.
Para o Painel Político, esse caso transcende o âmbito corporativo: ele ilustra os desafios da regulação em um governo que prioriza a transição sustentável, mas enfrenta críticas por lentidão em fiscalizações. A resposta da Justiça ao pedido da CVM será pivotal para definir precedentes sobre transparência em recuperações judiciais de companhias abertas.
Palavras-chave: CVM, Ambipar, recuperação judicial, mercado de capitais, transparência financeira, Deutsche Bank, swap cambial, governança corporativa, B3, investidores.
O que você acha dessa busca por transparência? A CVM está agindo a tempo, ou o episódio revela falhas sistêmicas no nosso mercado? Comente abaixo sua opinião e compartilhe este artigo para debatermos juntos o futuro da regulação financeira no Brasil!
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