Crise nos Correios: Rombo financeiro, atrasos e polêmicas ameaçam estatal
Prejuízos bilionários, suspensão de voos e estoques de encomendas não entregues expõem fragilidades da gestão dos Correios. Qual o futuro da empresa pública?
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) atravessa uma crise que combina prejuízos financeiros recordes, falhas operacionais e decisões administrativas controversas. Em 2024, a estatal registrou um déficit de R$ 2,6 bilhões, quatro vezes maior que o prejuízo de R$ 597 milhões do ano anterior, e o primeiro trimestre de 2025 já acumula perdas de R$ 1,72 bilhão, o pior resultado para o período desde 2017.
A situação, agravada por atrasos em entregas, suspensão de operações aéreas e dívidas com fornecedores e fundos de pensão, levanta questionamentos sobre a capacidade da atual gestão, liderada por Fabiano Silva dos Santos, de reverter o quadro de deterioração da empresa.
Rombo financeiro e dívidas acumuladas
O déficit financeiro dos Correios reflete uma combinação de fatores estruturais e conjunturais. A queda de receita no segmento postal, impactada pelo programa Remessa Conforme — que regularizou compras internacionais e gerou uma frustração de R$ 2,2 bilhões em 2024 — é apontada como uma das causas. Além disso, a estatal enfrenta dificuldades herdadas do governo anterior, que incluiu os Correios no Plano Nacional de Desestatização, levando ao fechamento de agências, cortes em investimentos e perda de competitividade.
Entre as dívidas acumuladas, destaca-se o atraso nos repasses ao Postalis, fundo de pensão dos funcionários, com uma pendência de R$ 274 milhões referentes à cota patronal de duas mensalidades. Essa situação, somada à suspensão de repasses ao plano de saúde Postal Saúde, gera insegurança entre os trabalhadores e ameaça a sustentabilidade dos benefícios previdenciários. O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo (Sintect-SP) alerta que a continuidade do calote pode resultar em novos descontos salariais para cobrir o déficit do fundo.
Suspensão de voos pela Anac
A crise operacional ganhou um novo capítulo com a suspensão temporária das operações de transporte aéreo dos Correios, determinada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em 4 de junho de 2025. A medida foi motivada pelo transporte irregular de produtos perigosos, como baterias de íon lítio, pelas empresas terceirizadas Sideral Linhas Aéreas e Total Linhas Aéreas. Após negociações, os Correios conseguiram um acordo para manter os voos, desde que implementem mudanças imediatas nos protocolos de segurança, como a instalação de equipamentos de raio-X para inspeção de cargas. A estatal investiu R$ 12,62 milhões em 65 novos equipamentos em 2024, somando-se a 151 adquiridos em 2023. Apesar disso, o episódio expôs falhas na gestão logística e reforçou a percepção de desorganização.
Encomendas paradas e insatisfação dos clientes
A deterioração do serviço postal é visível nos estoques de encomendas não entregues, que geram milhares de reclamações de clientes. O Sintect-SP relata acúmulo de paletes em centros de distribuição, evidenciando a sobrecarga dos trabalhadores e a falta de investimento em infraestrutura operacional. Em redes sociais, relatos de atrasos e extravios de correspondências são frequentes, com a crise sendo explorada por opositores do governo Lula, que defendem a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a estatal.
A empresa, que já dominou quase metade do mercado de entregas expressas (Sedex) em 2019, hoje detém menos de um terço do setor, perdendo espaço para concorrentes privados. A capilaridade da estatal, presente em 5.570 municípios, ainda é um diferencial, mas a incapacidade de cumprir prazos, como os 72 horas prometidos para o Sedex no Sudeste, compromete sua credibilidade.
Medidas polêmicas da gestão
Para conter o rombo financeiro, os Correios anunciaram um plano de economia de R$ 1,5 bilhão em 2025, com medidas que incluem redução da jornada de trabalho para 6 horas diárias (com corte proporcional de salários), suspensão de férias a partir de 1º de junho de 2025 e revisão do plano de saúde dos funcionários. A suspensão de férias, considerada ilegal por sindicatos, foi barrada por uma liminar judicial obtida pela Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios (Fentect). As medidas geraram forte reação entre os empregados, que acusam a direção de atacar direitos trabalhistas em vez de buscar soluções estruturais.
Ao mesmo tempo, decisões da gestão têm gerado indignação. Apesar da crise financeira, a estatal mantém patrocínios milionários, como os R$ 6 milhões destinados ao festival Lollapalooza e R$ 4 milhões à turnê “Tempo Rei” de Gilberto Gil, totalizando R$ 34 milhões em 2024. Além disso, uma licitação para fornecer veículos de luxo a diretores, com motorista e combustível inclusos, foi criticada por sindicatos e apontada como incoerente com o discurso de contenção de despesas. A estatal também planeja uma licitação de R$ 380 milhões para publicidade, alvo de investigações do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Ministério Público Federal (MPF).
Gestão e contexto político
A nomeação de Fabiano Silva dos Santos, advogado ligado ao grupo Prerrogativas e próximo ao PT, para presidir os Correios tem sido questionada. Críticos apontam que a estatal continua sendo alvo de indicações políticas, uma prática que remonta a escândalos como o mensalão, quando irregularidades em contratos dos Correios vieram à tona. O governo Lula retirou a empresa da lista de privatizações em 2023, uma decisão elogiada por sindicatos, mas a atual gestão é acusada de não avançar na recuperação da estatal, permitindo a continuidade do sucateamento iniciado no governo Bolsonaro.
A direção dos Correios aposta em iniciativas como a criação de um marketplace próprio, expansão para novos mercados (como banco digital e logística para saúde) e a captação de R$ 3,8 bilhões junto ao Banco dos Brics para modernização e descarbonização. No entanto, sem uma estratégia clara para estancar prejuízos e melhorar a operação, a estatal segue perdendo espaço no mercado.
O que está em jogo?
Os Correios são uma empresa de 362 anos, com presença em todos os municípios brasileiros e um papel estratégico na integração nacional. A crise atual, porém, coloca em risco sua relevância. Enquanto a gestão promete recuperação, trabalhadores e sindicatos cobram diálogo e investimentos. A sociedade, principal afetada pelos atrasos e pela má qualidade do serviço, aguarda respostas sobre o futuro da estatal. A pergunta permanece: qual é o plano da direção da ECT para tirar os Correios do vermelho e devolver sua eficiência?
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