Crise na Cotribá: Justiça gaúcha concede escudo de 30 dias e abre caminho para recuperação judicial
Com dívidas de R$ 1 bilhão e risco iminente de colapso, a centenária Cotribá ganha fôlego na Justiça para renegociar com credores e evitar o impacto em milhares de produtores rurais gaúchos
A Cotribá, oficialmente conhecida como Cooperativa Agrícola Mista General Osório, uma das instituições mais emblemáticas do agronegócio brasileiro, atravessa um dos momentos mais delicados de sua história centenária. Fundada em 1911, em Ibirubá, no Rio Grande do Sul, a cooperativa é reconhecida como a mais antiga em atividade no país e representa um pilar para milhares de produtores rurais na região Norte do estado. No entanto, uma crise financeira agravada por múltiplos fatores externos e internos levou a entidade a buscar amparo urgente no Judiciário, em um movimento que pode definir não apenas seu futuro, mas também o de toda uma cadeia produtiva dependente de suas operações.
Em 25 de novembro de 2025, a Cotribá protocolou um pedido de tutela de urgência na Vara Regional Empresarial de Santa Rosa (RS), solicitando a suspensão temporária de cobranças, protestos e execuções judiciais por parte de seus credores. De acordo com os documentos encaminhados ao tribunal, a cooperativa acumula um passivo estimado em cerca de R$ 1 bilhão, dos quais aproximadamente R$ 400 milhões vencem até o final de novembro. Essa pressão imediata, somada a riscos de bloqueio de contas bancárias e assédio simultâneo de dezenas de credores, ameaça a continuidade das atividades essenciais, como o recebimento de grãos, a venda de insumos e rações, e o funcionamento de suas unidades comerciais.
A medida judicial, conhecida como tutela cautelar em caráter antecedente, funciona como uma espécie de “escudo preventivo”, semelhante ao stay period previsto na Lei de Recuperação Judicial (Lei 11.101/2005). Ela visa conceder um período de carência para que a empresa reorganize suas finanças sem o risco imediato de paralisação forçada. No caso da Cotribá, o pedido argumenta que constrições judiciais precipitadas poderiam comprometer não só a entidade, mas também os interesses de seus 9,5 mil associados — produtores rurais que dependem da cooperativa para escoamento de safra, acesso a crédito e suprimentos agrícolas. A cooperativa opera 29 unidades de armazenagem de grãos, uma indústria de ração, 25 lojas agropecuárias, cinco postos de combustíveis, quatro supermercados e um centro comercial, empregando diretamente cerca de mil funcionários e atendendo 31 mil clientes.
A decisão liminar, proferida pelo juiz Eduardo Sávio Busanello, titular da vara, foi parcialmente favorável à Cotribá. Em 27 de novembro de 2025, o magistrado concedeu a proteção solicitada, suspendendo as ações de cobrança e execuções contra a cooperativa por um prazo inicial de 30 dias. Essa determinação inédita estende os efeitos da recuperação judicial a cooperativas, um mecanismo que, até então, era mais comum em sociedades empresariais tradicionais. A decisão judicial tem como objetivo criar condições para reorganizar as dívidas com instituições financeiras e fornecedores, permitindo negociações equilibradas e sustentáveis, afirmou a Cotribá em nota oficial divulgada após a sentença. O pedido de sigilo processual, no entanto, foi negado, garantindo transparência ao caso.
O juiz Busanello, em entrevista ao portal AgFeed, justificou sua decisão destacando a afinidade com o setor agropecuário e o aspecto humanitário da medida: Se cada credor for pegar um pouco, os primeiros levam tudo e os últimos nada. Ele reconheceu que a tutela é polêmica e pode ser alvo de recursos por parte dos credores, mas enfatizou que a Cotribá demonstrou probabilidade do direito e perigo de dano irreparável, requisitos essenciais para a concessão de urgência conforme o Código de Processo Civil (artigos 300 e 305). Com essa liminar, a cooperativa ganha tempo para preparar o pedido formal de recuperação judicial, previsto para ser protocolado ainda em dezembro de 2025, dentro do prazo estipulado pela Justiça.
A crise da Cotribá não surge do nada. No processo, a entidade atribui o agravamento de sua situação a uma confluência de desafios setoriais: oscilações de preços no mercado de commodities, dificuldades de liquidez agravadas por restrições de crédito no agronegócio, impactos climáticos sobre a produção agrícola — como secas e enchentes recentes no Rio Grande do Sul — e uma gestão interna que, segundo analistas, precisou de ajustes profundos. Em busca de soluções, o presidente Celso Leomar Krug contratou, recentemente, o primeiro CEO da história da cooperativa: Luís Felipe Maldaner, administrador com experiência no setor bancário e ex-diretor do Banco de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Badesul). Recuperaremos credibilidade, declarou Maldaner em entrevista à GZH, em referência a um plano de reestruturação que já vinha sendo traçado para lidar com dívidas anteriores estimadas em R$ 500 milhões.
Além da via judicial, a Cotribá avança em negociações privadas para um socorro financeiro. A diretoria revelou, em assembleia recente, a assinatura de um contrato com um fundo de investimento americano, que injetará recursos bilionários em até 60 dias. O plano, estruturado em quatro pilares — associados, fornecedores, bancos e securitização de dívidas —, prevê renegociações individualizadas com prazos de até 10 anos. Essa injeção de capital seria destinada à quitação de obrigações de curto prazo, reavaliação de ativos e modernização de operações, como a potencial venda de unidades não essenciais. A cooperativa enfatiza que, mesmo com a crise, mantém o pagamento em dia aos associados, preservando a confiança mútua que é o cerne do modelo cooperativista.
O caso da Cotribá ecoa preocupações maiores no agronegócio brasileiro, especialmente no Sul do país, onde cooperativas como a Aurora e a Fruki também enfrentaram turbulências financeiras nos últimos anos. Especialistas consultados pela Globo Rural apontam que o endividamento do setor rural cresceu 15% em 2025, impulsionado por juros altos e volatilidade cambial, afetando pequenas e médias propriedades que representam 70% da base de associados em entidades como a Cotribá. No X (antigo Twitter), o tema ganhou tração entre perfis especializados em agro, como o do jornalista Pablo Spyer, que destacou em vídeo: a recuperação judicial da Cotribá como um dos principais eventos da semana no setor. Postagens semelhantes, de veículos como Valor Econômico e Giane Guerra (GZH), acumularam milhares de interações, refletindo o interesse público em como crises locais podem reverberar na economia nacional.
A Cotribá ainda não emitiu pronunciamento público detalhado sobre o processo além da nota oficial, mas fontes próximas à diretoria indicam otimismo com a liminar. Caso o pedido de recuperação judicial avance, a cooperativa terá até 60 dias para apresentar um plano de viabilidade aos credores, sob supervisão judicial. Se aprovado, isso poderia evitar a falência e preservar empregos e a cadeia de suprimentos para produtores de soja, milho e trigo na região. Por outro lado, recursos dos credores poderiam prolongar a disputa, ampliando a incerteza.
Esse episódio reforça a necessidade de políticas públicas mais robustas para o cooperativismo agropecuário, como linhas de crédito subsidiadas e seguros contra riscos climáticos, defendem entidades como a Organização das Cooperativas do Rio Grande do Sul (Ocergs).
Para o setor, a sobrevivência da Cotribá não é apenas uma questão financeira, mas um símbolo de resiliência em um mercado cada vez mais volátil.
Palavras-chave: Cotribá, crise financeira, recuperação judicial, agronegócio, Rio Grande do Sul, dívidas cooperativas, tutela de urgência, produtores rurais, fundo de investimento.
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