Crise na Ambipar revela armadilhas em COEs: Investidores do BTG e XP registram perdas milionárias de até 93%
Produto híbrido virou pesadelo: Entenda como a queda da empresa de Gestão Ambiental afetou milhares de aplicações e o que isso significa para o Mercado Financeiro
A plataforma do BTG Pactual exibe um slogan tentador para atrair investidores: “O retorno da renda variável, com a segurança da renda fixa”. Esse é o pitch usado para vender Certificados de Operações Estruturadas (COEs), produtos que prometem mesclar a estabilidade da renda fixa com o potencial de ganhos da renda variável, como ações. No entanto, a realidade se mostrou bem diferente para quem apostou em COEs atrelados à Ambipar (AMBP3), empresa de gestão ambiental que mergulhou em uma crise financeira profunda.
Nesta semana de outubro de 2025, o colapso dos papéis da companhia gerou prejuízos expressivos para clientes de duas das maiores corretoras do país: BTG Pactual e XP Investimentos. As ações da Ambipar despencaram 90,5% nos últimos 10 pregões, evaporando R$ 11,38 bilhões em valor de mercado, e arrastaram consigo aplicações que foram comercializadas como opções de baixo risco ao longo de 2024.
Desde o final de setembro, a Ambipar sinaliza a possibilidade de pedir recuperação judicial, após obter uma medida cautelar na Justiça do Rio de Janeiro para se proteger de credores por 30 dias. A empresa alegou risco de “colapso do grupo empresarial”, apesar de relatar um caixa de R$ 4,7 bilhões no balanço do segundo trimestre.
No entanto, parte desses recursos parece ter desaparecido, alimentando desconfiança no mercado. Os bonds – títulos de dívida emitidos pela companhia nos Estados Unidos, que formam a base desses COEs – também derreteram, refletindo a iminência de um default. A S&P rebaixou o rating da Ambipar de BB- para D (default), intensificando o pânico. Desde o pico em dezembro de 2024, quando as ações valorizaram 730% na Bolsa, a empresa já perdeu R$ 43,33 bilhões em valor de mercado, em meio a investigações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre supostas manipulações envolvendo o investidor Nelson Tanure.
As respostas das corretoras e os prejuízos na prática
As instituições financeiras adotaram abordagens distintas para lidar com o problema, mas o resultado para os investidores foi igualmente devastador. Na XP Investimentos, um comunicado interno enviado na segunda-feira (6) anunciou a liquidação antecipada das emissões de COEs da Ambipar realizadas até 18 de março de 2024. De acordo com o Documento de Informações Essenciais (DIE), cláusulas de “boa fé” foram acionadas por eventos como reestruturação da emissora ou queda superior a 50% no valor inicial.
O resgate? Apenas 6,88% do principal investido – uma perda de 93,12%. Fontes do mercado estimam que pelo menos 41 emissões desses COEs foram feitas com a Ambipar, afetando milhares de pessoas físicas. O caso se estende a COEs atrelados à Braskem, com perdas entre 26% e 37%.
Já no BTG Pactual, os ativos foram marcados a mercado, ajustando o valor dos COEs ao preço atual dos bonds da Ambipar, que agora valem próximo de zero. Um comunicado interno da última semana de setembro alterou a metodologia de precificação para refletir o “valor econômico da estrutura” em meio ao cenário da emissora. As lâminas dos produtos alertam que, em caso de não pagamento dos bonds, o resgate pode ser proporcional ao valor de mercado – e, se negativo, o investidor perde tudo.
Procuradas pela reportagem do E-Investidor, do Estadão, nem a XP nem o BTG comentaram o episódio. Esses COEs, do tipo “bonds repack”, reempacotam títulos de dívida privada emitidos no exterior, sem oscilações cambiais, com vencimentos entre 2031 e 2033 e cupons atrativos como IPCA + 9,5% ao ano (no BTG) ou IPCA + 11,75% a.a. (na XP). Vendidos desde fevereiro de 2024, eles atraíram uma campanha agressiva para o varejo, inclusive um lote especial para funcionários da XP, sem comissões e com retornos ligeiramente maiores – que agora também enfrentam o mesmo destino.
Relatos de investidores: Surpresa e frustração no Reclame Aqui e nas redes
O impacto se reflete em uma enxurrada de reclamações. No Reclame Aqui, dezenas de relatos contra XP e BTG surgiram nos últimos dias, com acusações de orientação inadequada e omissão de riscos. Um investidor de Itapema (SC), que pediu anonimato, perdeu 90,42% de R$ 30 mil aplicados em fevereiro de 2024, sob recomendação de um assessor do BTG. Ele abriu a conta focado em renda fixa, mas foi seduzido pela promessa de “segurança da renda fixa”. Em janeiro, tentou resgatar, mas foi informado por e-mail em 6 de janeiro que o ativo carecia de liquidez. Semana passada, o saldo virou negativo. “Se eu estivesse completamente de acordo com o tipo de investimento COE, ok. A minha revolta é que eu não tinha o conhecimento, não era o que eu buscava para investir”, desabafou.
Em Campinas (SP), outro aplicante viu R$ 289 mil encolherem para R$ 19 mil, lamentando **_”toda a economia de uma vida indo para o ralo”. De Saldanha Marinho (RS), veio a denúncia de **”propaganda enganosa”**, com perda de R$ 5 mil em três COEs empurrados de uma vez para garantir comissões. Nas redes sociais, o tom é de revolta: um usuário no X (antigo Twitter) ironizou que os COEs da XP representam **”pagar pra ser sodomizado”_,** prevendo perdas de 93%. Outro destacou a cilada em produtos sem garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Até fundos como o FII BMLC11 anunciaram calote da Ambipar, impactando dividendos
Especialistas alertam: Falta de transparência e educação financeira
Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, gestora com 20 anos de mercado, critica a comercialização. “O produto pode ser bom, mas quem está comercializando deve ter capacidade profunda de transmitir todas as informações necessárias de riscos e prazos ao investidor. Infelizmente, nem sempre é o que acontece e situações como essa deixam isso muito claro”. Analistas no X ecoam: a baixa liquidez, rentabilidade incerta e ausência de FGC tornam COEs melhores para quem vende do que para quem compra.
Fontes próximas à XP veem o episódio como um “evento de mercado de crédito imprevisível”, não erro de assessores.
A Ambipar, por sua vez, demitiu diretores antes do pedido de cautelar e enfrenta questionamentos sobre ratings inflados, como o “BB-” em dólar da Fitch.
Enquanto o mercado digere o caso, ações viraram “penny stocks” a R$ 0,80, e o episódio acende alerta para produtos complexos no varejo. Em um cenário de juros altos e busca por yield, esses COEs destacam a necessidade de due diligence. Investidores devem priorizar diversificação, ler DIEs com atenção e questionar assessores sobre cenários adversos. A CVM pode intensificar escrutínio, mas a lição é clara: o que parece híbrido seguro pode evaporar em crises.
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*Texto produzido a partir de informações do E-Investidor, do Estadão