Crise Brasil-EUA: tarifas de Trump e a defesa de Lula pela soberania nacional
Em meio a tarifas punitivas e pressão por Bolsonaro, Lula reforça alianças com o BRICS e enfrenta o pior momento nas relações bilaterais em dois séculos
A relação entre Brasil e Estados Unidos, marcada por 201 anos de cooperação, atravessa sua maior crise, impulsionada pelas tarifas de 50% impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump e sua exigência de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) interfira no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe de Estado.
O embate, que mistura questões comerciais e políticas, escalou tensões diplomáticas e colocou o Supremo Tribunal Federal (STF) no centro de uma disputa internacional, com Lula reforçando a soberania nacional e buscando apoio no bloco BRICS.
Uma crise com raízes políticas
A crise teve início em julho de 2025, durante a cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, quando Trump ameaçou impor tarifas de 10% a países do bloco, classificando-o como "anti-americano". A situação se agravou em 9 de julho, quando o presidente dos EUA anunciou, via carta publicada na rede social Truth Social, uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Na carta, Trump vinculou a medida a dois pontos: o que chamou de "ataques insidiosos do Brasil às eleições livres" e a "violação da liberdade de expressão" por ordens do STF contra plataformas digitais. Ele também defendeu Bolsonaro, afirmando que o ex-presidente sofre uma "caça às bruxas" e que o julgamento por tentativa de golpe deveria ser interrompido imediatamente.
Lula respondeu com firmeza, rejeitando a carta e afirmando que o Brasil não será tutelado. "O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém", disse o presidente em nota publicada em 9 de julho. Ele criticou a interferência externa e destacou a Lei da Reciprocidade Econômica, que permite ao Brasil retaliar com tarifas equivalentes. "Soberania, respeito e defesa dos interesses do povo brasileiro orientam nossa política externa", completou Lula.
Pressão sobre o STF e sanções aos Ministros
A pressão norte-americana não se limitou às tarifas. Os EUA aplicaram a Lei Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, que conduz o processo contra Bolsonaro, além de revogar vistos de Moraes e outros sete ministros da Corte. A embaixada americana em Brasília chegou a publicar uma ameaça a aliados de Moraes, reforçando o apoio a Bolsonaro. Em resposta, Moraes determinou a prisão domiciliar do ex-presidente e medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica e proibição de contato com embaixadas. "As instituições brasileiras não cederão à pressão externa", declarou Moraes em um gesto público.
A analista Bruna Santos, do Diálogo Interamericano, destacou ao Financial Times que a exigência de Trump para que Lula interfira no STF é "política e institucionalmente impossível". A crise, segundo ela, marca o pior momento nas relações bilaterais em dois séculos, com impactos que podem se estender até as eleições de 2026.
Impactos econômicos e resiliência do Mercado
Embora as tarifas afetem 35,9% das exportações brasileiras aos EUA, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), cerca de 694 produtos foram isentos, incluindo suco de laranja, minério de ferro e aeronaves. Setores como café, carne bovina e frutas frescas, no entanto, enfrentam perdas significativas. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) alertou que a medida impacta a competitividade do agronegócio, mas defendeu uma resposta "firme e estratégica" por meio da diplomacia.
Apesar das tensões, o mercado financeiro brasileiro mostrou resiliência. O real se valorizou, e o índice Bovespa acumula alta de mais de 13% em 2025. Analistas da The Economist classificaram as tarifas como "mais um latido do que uma mordida", apontando que apenas 13% das exportações brasileiras dependem do mercado americano, contra 28% destinados à China.
A estratégia de Lula e as alianças com o BRICS
Sem canais diretos de diálogo com Trump, que centraliza decisões e não dá autonomia a auxiliares, Lula buscou reforçar alianças com líderes do BRICS, como Narendra Modi, da Índia, e Vladimir Putin, da Rússia. A estratégia visa construir uma frente comum contra o que Lula chamou de "interferência inaceitável" dos EUA. Durante a cúpula do BRICS, o bloco emitiu uma carta repudiando o protecionismo disfarçado de objetivos ambientais, o que provocou a reação inicial de Trump.
Lucas de Aragão, da consultoria Arko Advice, criticou a diplomacia brasileira, afirmando ao Financial Times que foi um "erro não enxergar o risco no radar". Enquanto isso, o governo Lula estuda medidas compensatórias, como créditos via BNDES e novos acordos comerciais com Ásia e África, para mitigar os impactos econômicos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), planeja um pacote de socorro às empresas afetadas, a ser anunciado em breve.
Bolsonaro, Trump e a narrativa da extrema-direita
Bolsonaro e seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), têm capitalizado a crise para reforçar sua base. Eduardo, que se mudou para os EUA em março de 2025, articulou com figuras como Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, para pressionar por sanções contra o STF. "Povo brasileiro, vamos fazer o mundo ouvir a nossa voz. Agradecemos ao presidente Trump", escreveu Eduardo no X, convocando apoio às tarifas e à Lei Magnitsky.
No entanto, a estratégia tem gerado críticas, até mesmo entre aliados. Governadores como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) culparam Lula pela crise, mas evitaram apoiar diretamente as tarifas, temendo prejuízos ao agronegócio. "Lula colocou sua ideologia acima da economia", disse Tarcísio. A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) classificou os Bolsonaros como "traidores da pátria" por incentivarem sanções contra o Brasil.
Um julgamento sob pressão
O julgamento de Bolsonaro no STF, que pode resultar em até 40 anos de prisão, é o pano de fundo da crise. Promotores afirmam ter provas de sua tentativa de conspiração golpista após a derrota eleitoral de 2022, culminando nos atos de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores invadiram o STF, o Congresso e o Palácio do Planalto. Bolsonaro nega as acusações, mas admitiu ter discutido "cenários alternativos" com militares.
O STF, marcado pela memória da ditadura militar, vê o julgamento como essencial para proteger a democracia. A pressão de Trump, no entanto, coloca a Corte em uma posição delicada, com risco de novas sanções contra outros ministros. "O Supremo tornou-se um símbolo da soberania democrática", *afirmou um editorial do Ascending the hierarchy..."O Supremo tornou-se um símbolo da soberania democrática", afirmou um editorial do Correio Braziliense.
Perspectivas para 2026
A crise deve se prolongar até as eleições de 2026, com impactos políticos significativos. Lula busca capitalizar a narrativa, reforçando o discurso de soberania nacional, enquanto Bolsonaro e aliados tentam mobilizar apoio internacional. "É um episódio que pode afastar setores da economia do bolsonarismo", alertou o cientista político Renato Dorgan. O confronto também expõe divisões internas, com 63% dos brasileiros se opõem à interferência de Trump, segundo pesquisa Datafolha.
Apesar do impacto econômico limitado, a crise reforça a polarização política no Brasil. Lula ganha força ao se posicionar como defensor da soberania, enquanto Bolsonaro aposta na pressão externa para evitar condenação. A ausência de diálogo direto entre os líderes, somada à instabilidade, como o cancelamento de uma reunião com o Tesouro dos EUA, sugere que a resolução permanece distante.
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