Cresce o trabalho por apps no Brasil: 1,7 milhão de pessoas atuam em plataformas digitais; Norte concentra 7,5%
Pesquisa do IBGE revela expansão de 25,4 % desse tipo de atividade em dois anos, mas evidencia alta informalidade, jornada extensa e debate judicial sobre vínculo empregatício
O Brasil vive uma expansão do trabalho mediado por aplicativos. De 2022 a 2024, o número de pessoas que têm seu vínculo profissional predominantemente por meio de plataformas digitais saltou de cerca de 1,3 milhão para quase 1,7 milhão, representando um crescimento de 25,4 % no período. Esse dado, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no módulo “trabalho por meio de plataformas digitais” da PNAD Contínua, é parte de um retrato ambíguo: ao mesmo tempo em que pode representar novas possibilidades, evidencia fragilidades trabalhistas, desigualdade de gênero e uma regulação ainda em aberto.
O cenário e a participação no mercado de trabalho
Em 2022, os trabalhadores por aplicativos representavam 1,5 % dos 85,6 milhões de ocupados. Já em 2024, o contingente de ocupados chegou a 88,5 milhões, dos quais 1,9 % eram plataformizados — o que mostra um aumento relativo da participação desse modo de trabalho.
Segundo o analista Gustavo Fontes, responsável pelo módulo temático do IBGE, dois fatores ajudam a explicar esse movimento: “a possibilidade de a pessoa escolher os dias em que vai trabalhar, a jornada de trabalho, o local de trabalho” e a obtenção de maior renda do que alternativas tradicionais.
Modalidades mais utilizadas
O IBGE identifica quatro grandes tipos de aplicativo usados pelos trabalhadores:
Transporte particular de passageiros (excluindo táxi): 53,1 %
Entrega de comida/produtos: 29,3 %
Serviços gerais ou profissionais (designers, tradutores, telemedicina etc.): 17,8 %
Aplicativos de táxi: 13,8 %
Dentre os trabalhadores plataformizados, 72,1 % se enquadram nas categorias de operadores de instalação, máquinas e montadores — classificação que engloba motoristas e motociclistas.
Informalidade acentuada e vínculos precários
Um panorama preocupante surge na comparação da informalidade. Enquanto 44,3 % dos trabalhadores no Brasil estão em situação informal, entre os plataformizados esse percentual salta para 71,1 %. O IBGE considera informalidades casos como empregados sem carteira e trabalhadores por conta própria sem CNPJ.
Quanto à natureza do vínculo entre os plataformizados:
86,1 % atuam por conta própria
6,1 % são empregadores
3,9 % são empregados sem carteira assinada
3,2 % são empregados com carteira assinada
Esse quadro reforça a fragilidade estrutural dessa modalidade. O módulo da PNAD foi delimitado para quem trabalha predominantemente por meio de plataformas — ou seja, casos de “bicos” não foram contemplados como plataformizados. Fontes ressalta que “o universo dessas pessoas não é tão grande assim”.
O próprio IBGE classifica essa estatística como experimental, ainda em fase de aprimoramento, e exclui plataformas de hospedagem ou aluguel por temporada, focando nas plataformas “intensivas em trabalho”. Ele também sinaliza que a edição de 2025 da pesquisa incluirá dados de plataformas de comércio eletrônico.
Perfil demográfico e regional
Gênero, idade e escolaridade
A predominância masculina é marcante: 83,9 % dos plataformizados são homens, frente a 58,8 % no universo da população ocupada. As mulheres correspondem a 16,1 % desse grupo.
Quanto à faixa etária, 47,3 % têm entre 25 e 39 anos, e 36,2 % têm entre 40 e 59 anos. Já no quesito escolaridade:
Médio completo e superior incompleto: 59,3 %
Superior completo: 16,6 %
Fundamental completo até médio incompleto: 14,8 %
Sem instrução ou fundamental incompleto: 9,3 %
É significativo que entre aqueles com nível superior completo, os plataformizados recebam menos do que os não plataformizados — o que sugere que alguns optam por atuar em apps por falta de oportunidades em sua área de formação.
Distribuição regional
Mais da metade ( 53,7 %) dos trabalhadores em plataformas estão na Região Sudeste, seguida por Nordeste (17,7 %), Sul (12,1 %), Centro-Oeste (9 %) e Norte (7,5 %). No Sudeste, a participação dos plataformizados na população ocupada (2,2 %) está acima da média nacional (1,9 %).
É na região Sudeste que a densidade e infraestrutura urbana favorecem o uso intensivo de aplicativos de mobilidade e entrega, o que pode explicar essa concentração.
Remuneração, jornada e rendimento por hora
Em 2024, o rendimento médio mensal dos trabalhadores por apps ficou em R$ 2.996, 4,2 % superior ao dos trabalhadores não plataformizados (R$ 2.875). Esse diferencial, porém, já foi maior: em 2022, os plataformizados ganhavam 9,4 % a mais.
Entretanto, a carga horária média entre os plataformizados é mais extensa: 44,8 horas semanais, enquanto os demais trabalhavam cerca de 39,3 horas. Isso reduz o rendimento por hora:
Plataformizados: R$ 15,4/h
Não plataformizados: R$ 16,8/h (8,3 % maior)
Ou seja: para superar a renda dos demais, os trabalhadores por aplicativos precisam investir mais horas.
Motoristas
Entre os 1,9 milhão de motoristas no Brasil, cerca de 824 mil (43,8 %) eram motoristas de aplicativo em 2024. Esses profissionais tiveram rendimento médio de R$ 2.766 mensais, ≈R$ 341 acima dos motoristas que não utilizam plataformas (R$ 2.425).
Entretanto, dirigiram cerca de 5 horas a mais por semana (45,9h vs 40,9h). Em termos de valor por hora:
Plataformizados: R$ 13,9/h
Não plataformizados (incluindo os formais): R$ 13,7/h ou até R$ 14,7/h para os formalizados
A participação previdenciária também é baixa: apenas 25,7 % dos motoristas por app contribuíam, frente a 56,2 % dos demais motoristas. A informalidade entre motoristas de app atinge 83,6 %, diante dos 54,8 % dos demais motoristas.
Motociclistas
Dos cerca de 1,1 milhão de pessoas ocupadas como motociclistas, um em cada três ( 33,5 %) trabalhava por meio de aplicativo, contra 21,9 % em 2022.
O rendimento mensal entre motociclistas por app era R$ 2.119, 28,2 % acima dos não plataformizados (R$ 1.653). A jornada semanal média foi de 45,2h, contra 41,3h dos demais. O rendimento por hora ficou em R$ 10,8, superior ao dos não plataformizados (R$ 9,2).
A contribuição previdenciária era ainda mais baixa: 21,6 % dos plataformizados abarcaram cobertura, frente a 36,3 % dos demais motociclistas. A informalidade entre os motociclistas por app chegou a 84,3 %.
O debate institucional e judicial
A regulação do trabalho em plataformas é tema sensível e já ganhou espaço no Supremo Tribunal Federal (STF). Está em debate se motoristas e entregadores que atuam por meio de apps possuem vínculo empregatício com as plataformas. Representantes dos trabalhadores denunciam a precarização das condições laborais; as empresas, por sua vez, negam a relação de emprego — posição compartilhada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
O presidente do STF, ministro Edson Fachin, declarou que a votação sobre esse tema deve ocorrer no início de novembro.
Este cenário multifacetado revela avanços e desafios do trabalho por aplicativos no Brasil: ganha espaço no mercado, mas continua marcado por informalidade, jornadas longas e remuneração por hora inferior. A decisão do STF poderá delimitar direitos e responsabilidades entre plataformas e trabalhadores, definindo o futuro dessa forma emergente de ocupação.
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