Carla Zambelli na lista vermelha da Interpol: o que está por trás da fuga e da condenação
Deputada federal, condenada a 10 anos de prisão, deixa o Brasil e enfrenta prisão preventiva e busca internacional. Entenda o caso e suas implicações
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), figura proeminente do bolsonarismo, foi incluída na lista de difusão vermelha da Interpol, um alerta internacional para localização e prisão de foragidos, a pedido da Polícia Federal (PF) e por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
A medida, anunciada em 5 de junho de 2025, veio após Zambelli deixar o Brasil, dias depois de ser condenada a 10 anos de prisão por invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e falsidade ideológica. A parlamentar, que saiu do país pela fronteira com a Argentina, em Foz do Iguaçu, está atualmente na Flórida, Estados Unidos, mas planeja se estabelecer na Itália, onde possui cidadania. O caso reacende debates sobre a atuação do STF, a polarização política e os limites das prerrogativas parlamentares.
Contexto da condenação
Em 14 de maio de 2025, a Primeira Turma do STF condenou Zambelli por unanimidade a 10 anos de prisão em regime fechado, além da perda do mandato parlamentar e uma multa de R$ 2 milhões por danos morais e materiais coletivos. A acusação, apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), aponta que a deputada planejou e coordenou, com o hacker Walter Delgatti Neto, uma invasão aos sistemas do CNJ em 2023. O objetivo era inserir documentos falsos, incluindo um mandado de prisão contra o próprio ministro Alexandre de Moraes, assinado como se fosse por ele mesmo, e alvarás de soltura fraudulentos, como um em favor de um líder do Comando Vermelho. Delgatti, conhecido pelo caso “Vaza Jato”, confessou o crime e foi condenado a oito anos e três meses de prisão.
Segundo o relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, Zambelli agiu de forma “premeditada, organizada e consciente” para desacreditar o Poder Judiciário e atacar o Estado Democrático de Direito. A PGR destacou que a conduta da deputada demonstra “descompromisso com o cargo parlamentar” e disposição para práticas ilícitas, justificando a perda do mandato e a inelegibilidade por oito anos, conforme a Lei da Ficha Limpa. Apesar de ainda caber recurso (embargos de declaração), a inelegibilidade passa a valer com a publicação do acórdão, e a pena de prisão será aplicada após o trânsito em julgado.
A fuga e a prisão preventiva
No dia 3 de junho, Zambelli anunciou, em entrevista ao canal AuriVerde Brasil no YouTube, que deixou o país, inicialmente alegando motivos de saúde. Ela saiu do Brasil em 25 de maio, cruzando a fronteira terrestre com a Argentina, em Foz do Iguaçu, e seguiu para Buenos Aires, de onde embarcou para os Estados Unidos. A parlamentar afirmou estar na Flórida, mas planeja fixar residência na Itália, onde acredita estar “intocável” por sua cidadania italiana. No entanto, a PGR e o STF interpretaram a saída como uma tentativa de fugir da aplicação da pena, considerando-a foragida.
Em resposta, Moraes decretou a prisão preventiva de Zambelli em 4 de junho, atendendo a um pedido da PGR. O ministro também determinou o bloqueio de seus passaportes (incluindo o diplomático), contas bancárias, bens, redes sociais e verbas de gabinete, além de uma multa diária de R$ 50 mil por postagens que reiterem condutas criminosas. A PF foi orientada a incluir o nome da deputada na lista vermelha da Interpol, um banco de dados internacional que facilita a localização e prisão provisória de foragidos em 196 países-membros, com vistas à extradição. A inclusão foi confirmada no dia seguinte, intensificando a busca pela parlamentar.
Reação de Zambelli e alegações de perseguição
Zambelli reagiu à decisão de Moraes em nota, classificando-a como “ilegal” e “autoritária”. Ela criticou a atuação “monocrática” do ministro, sem deliberação do plenário do STF, e prometeu denunciar o que chama de “perseguição política” em fóruns internacionais. “O mundo precisa saber que, no Brasil, ministros do Supremo agem como imperadores, atropelando leis, calando vozes, destruindo famílias”, declarou. A deputada também questionou a constitucionalidade da prisão, alegando que deputados federais só podem ser presos em flagrante por crimes inafiançáveis.
A defesa de Zambelli, inicialmente liderada pelo advogado Daniel Bialski, argumentou que não há provas técnicas de que a deputada redigiu ou enviou os documentos falsos e classificou Delgatti como um “mentiroso patológico”. Bialski renunciou à defesa por “motivos de foro íntimo” após a fuga da parlamentar, e o STF nomeou a Defensoria Pública da União (DPU) para representá-la. Zambelli nega as acusações e afirma ser vítima de perseguição política, especialmente por suas críticas ao STF e ao sistema eleitoral.
Implicações internacionais e a questão da extradição
A inclusão de Zambelli na lista vermelha da Interpol não garante sua prisão automática, mas aumenta a pressão para sua localização. A difusão vermelha é um alerta global que compartilha dados como nome, foto e crimes imputados, permitindo que países-membros detenham o foragido provisoriamente enquanto o Brasil solicita a extradição.
Zambelli planeja se estabelecer na Itália, onde possui cidadania. Diferentemente da Constituição brasileira, a italiana permite a extradição de nacionais em casos previstos por convenções internacionais, como no precedente de Henrique Pizzolato, extraditado em 2015 após condenação no mensalão. O deputado italiano Angelo Bonelli, do Movimento Europa Verde, já cobrou do governo italiano a extradição de Zambelli, o que pode complicar sua situação. A decisão final dependerá das autoridades italianas e do cumprimento de tratados internacionais.
Outras investigações e repercussão política
Além da condenação pelo caso do CNJ, Zambelli é ré em outra ação no STF por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal, referente a um episódio em 2022, quando perseguiu um apoiador de Lula com uma arma em São Paulo. Seis ministros já votaram pela condenação a 5 anos e 3 meses de prisão, mas o julgamento foi suspenso por um pedido de vista. Na Justiça Eleitoral, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) cassou seu mandato por abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação em 2022, decisão que aguarda recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O caso de Zambelli intensifica a tensão entre o STF e setores do bolsonarismo. Parlamentares aliados, como Eduardo Bolsonaro, sugeriram que a Câmara dos Deputados poderia suspender a ação penal contra ela como retaliação ao Judiciário. No entanto, a Constituição prevê que a perda do mandato é automática em casos de condenação criminal com pena superior a 120 dias de ausência, e o STF já consolidou esse entendimento em casos anteriores. A Câmara foi notificada sobre o bloqueio de verbas e salários de Zambelli, mas ainda não recebeu comunicação oficial sobre a prisão preventiva até o fim da manhã de 5 de junho.
O que vem a seguir?
O futuro de Zambelli permanece incerto. Se localizada, ela pode ser detida e enfrentar um processo de extradição, cujo sucesso dependerá da cooperação internacional e da análise de eventuais motivações políticas. No Brasil, a perda do mandato e a inelegibilidade por oito anos são iminentes, mas dependem do esgotamento de recursos. A deputada anunciou que pedirá licença não remunerada do mandato, seguindo o exemplo de Eduardo Bolsonaro, que também está nos EUA. Enquanto isso, suas redes sociais foram bloqueadas para evitar a propagação de narrativas contra o STF e o sistema eleitoral, uma medida que inclui até perfis de familiares, como sua mãe e seu filho.
O caso de Carla Zambelli reflete a polarização política no Brasil e levanta questões sobre o equilíbrio entre prerrogativas parlamentares, accountability judicial e cooperação internacional. À medida que o STF intensifica ações contra figuras ligadas ao bolsonarismo, o debate sobre perseguição política versus combate a crimes contra a democracia ganha força, com reflexos no Brasil e no exterior.
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