"Cabeça de juiz, dianteira de padre e traseira de burro não são confiáveis", diz Procurador-Geral do Maranhão
Declaração controversa durante reunião do Colégio de Procuradores gera repúdio da Associação dos Magistrados e força pedido público de desculpas
Em um episódio que gerou forte repercussão no meio jurídico, o procurador-Geral de Justiça do Maranhão, Danilo José de Castro Ferreira, provocou constrangimento institucional ao fazer uma declaração considerada ofensiva a juízes e religiosos durante sessão do Colégio de Procuradores realizada na segunda-feira, 27 de janeiro de 2025.
Durante a discussão sobre uma resolução, próximo ao término da sessão, o procurador-geral utilizou uma expressão que rapidamente viralizou nas redes sociais: "Cabeça de juiz, dianteira de padre e traseira de burro não são confiáveis". A declaração foi feita no contexto de uma discussão sobre procedimentos que envolviam o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).
Reação institucional
A Associação dos Magistrados do Maranhão (AMMA), que representa 427 juízes no estado, emitiu uma nota de repúdio enfática, questionando o propósito de tal "esdrúxula referência" à independência e ao livre convencimento motivado da magistratura. A associação destacou que comentários depreciativos sobre a atuação jurisdicional são incompatíveis com a dignidade esperada das instituições do Sistema de Justiça
Tentativa de retratação
Diante da repercussão negativa, o Ministério Público do Maranhão publicou uma nota de esclarecimento em suas redes sociais, na qual o procurador-geral tenta amenizar o impacto de suas palavras. Segundo a nota, Ferreira "jamais pretendeu causar qualquer atrito entre as respeitadas instituições republicanas" e pediu desculpas por qualquer mal-estar causado.
Na retratação, o procurador tentou ressignificar sua fala, argumentando que sua intenção era apenas expressar que os juízes são independentes e imparciais, e que suas decisões são naturalmente imprevisíveis, como devem ser.
Impacto institucional
O episódio expõe tensões latentes entre importantes instituições do sistema judiciário maranhense e levanta questões sobre a necessidade de maior cautela no discurso de autoridades públicas. A AMMA enfatizou que declarações desse tipo reproduzem um "viés implícito discriminatório" incompatível com uma sociedade moderna e civilizada, especialmente quando proferidas por um representante do Ministério Público.
A polêmica acontece em um momento delicado para as relações institucionais no estado e pode ter desdobramentos nas relações entre o Ministério Público e o Poder Judiciário do Maranhão. O caso também chamou a atenção para a importância do diálogo respeitoso entre as diferentes esferas do sistema de justiça.