BRICS no Rio: Brasil lidera debate por multilateralismo e reforma global
Encontro de chanceleres reforça papel do grupo como alternativa à governança ocidental e critica protecionismo em meio a tensões globais
Após dois dias de intensas discussões, a reunião de chanceleres do BRICS, realizada no Rio de Janeiro, encerrou-se nesta terça-feira (29) com um chamado por multilateralismo, reforma da governança global e soluções pacíficas para conflitos internacionais.
O encontro, o primeiro desde a expansão do grupo em 2024, reuniu representantes dos 11 países-membros — Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Irã, Etiópia e Indonésia — e de nove nações parceiras, como Belarus, Bolívia e Nigéria. Sob a presidência rotativa do Brasil, o evento destacou a relevância do bloco em um cenário global marcado por protecionismo crescente e enfraquecimento de instituições como a ONU.
Compromisso com o Multilateralismo e Críticas ao Protecionismo
A declaração final do encontro, divulgada pelo Brasil, expressou preocupação com o aumento do protecionismo comercial, apontado como uma ameaça ao multilateralismo.
Sem mencionar diretamente a guerra tarifária iniciada pelo governo de Donald Trump, o texto criticou medidas que fragilizam o comércio global e defendeu a necessidade de soluções diplomáticas para conflitos. A reforma da governança global, com maior representatividade do Sul Global, também foi um dos pilares das discussões, ecoando pautas defendidas pelo Brasil no G20 em 2024.
Para Isabela Rocha, mestre e doutoranda em ciência política pela UnB, o encontro reforçou o papel do Brasil na institucionalização do BRICS. “A pauta central é criar um fôlego institucional para que o BRICS seja mais do que um aglomerado de países, mas uma instituição mediadora”, afirmou. Ela destacou que, diante do enfraquecimento da ONU, o grupo surge como uma alternativa para promover mediações eficazes e defender os direitos humanos, que, segundo ela, não têm sido efetivamente garantidos por instituições ocidentais.
Brasil como mediador Global
A habilidade do Brasil em atuar como mediador em conflitos globais foi um dos pontos altos do evento. Em entrevista na segunda-feira (28), o chanceler russo, Sergei Lavrov, elogiou o potencial brasileiro para resolver problemas internacionais, destacando sua imparcialidade em relação a potências como Estados Unidos e União Europeia. “O Brasil é mais isento para mediar contendas”, reforçou Luiz Felipe Osório, professor de relações internacionais.
Osório também criticou o multilateralismo do pós-guerra, que, segundo ele, não impediu “grandes massacres e injustiças”. Para o especialista, o BRICS pode ser uma coalizão capaz de estabelecer novas bases para as relações internacionais, contrapondo-se ao imperialismo que, em sua visão, alimenta conflitos como os da Ucrânia e de Gaza. “O responsável pela miséria dos povos, apesar dos avanços tecnológicos, é o imperialismo. O BRICS pode ser uma alternativa confiável para a cooperação internacional”, defendeu.
Expansão e desafios do BRICS
A expansão do BRICS, que incorporou novos membros em 2024, foi celebrada como um passo para dar voz a nações historicamente marginalizadas nas negociações globais. Contudo, Osório alertou que o grupo ainda atua com timidez em questões centrais, avançando “a passos curtos” devido à heterogeneidade de interesses entre seus membros. “O BRICS permanece limitado em adotar posturas mais contundentes contra o imperialismo”, observou.
Isabela Gama, professora de relações internacionais na Universidade Abu Dhabi, destacou que a reforma do Conselho de Segurança da ONU e o fortalecimento da representatividade do Sul Global são pautas centrais da diplomacia brasileira, mas a falta de coordenação entre os membros do BRICS ainda é um obstáculo. “Com a expansão, há potencial para mudar esse cenário, mas as agendas dos países nem sempre convergem”, explicou.
Um novo papel para o BRICS
O encontro no Rio de Janeiro consolidou o BRICS como um ator relevante em um mundo polarizado, onde conflitos e medidas protecionistas desafiam a estabilidade global. A liderança do Brasil, com sua tradição diplomática de mediação, foi reconhecida como um ativo estratégico para o grupo. Contudo, especialistas concordam que, para se firmar como uma alternativa sólida às instituições ocidentais, o BRICS precisa superar suas limitações internas e adotar uma postura mais assertiva.
O evento no Rio não apenas colocou o Brasil no centro do debate global, mas também reforçou a importância do diálogo entre nações do Sul Global. Em um cenário de incertezas, o BRICS emerge como uma esperança de equilíbrio e cooperação, mas seu sucesso dependerá de sua capacidade de traduzir discussões em ações concretas.
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