Banco Master liquidado: Suspeitas envolvem Fundo de Previdência de Maceió e ação judicial da Arquidiocese
Aplicações financeiras polêmicas, exoneração de aliado do prefeito JHC e questionamentos sobre uso de emendas parlamentares levantam debates sobre transparência na gestão pública de Maceió
O Instituto de Previdência dos Servidores de Maceió (Iprev), atual Maceió Previdência, realizou investimentos de R$ 97 milhões em letras financeiras do Banco Master, instituição que sofreu liquidação extrajudicial decretada pelo Banco Central em novembro de 2025, após investigações da Polícia Federal por suspeitas de gestão fraudulenta.
As aplicações ocorreram sob a gestão de Ronnie Reyner Teixeira Mota, nomeado diretor-presidente do Iprev em maio de 2023 pelo prefeito João Henrique Caldas (JHC, PL). Em dezembro de 2023, foi aprovado aporte inicial de R$ 80 milhões, seguido de mais R$ 17 milhões em maio de 2024. Ronnie, aliado de JHC desde a campanha eleitoral de 2020, foi exonerado em setembro de 2025, em meio a indícios de irregularidades no Banco Master e durante reforma administrativa municipal.
O Iprev informou que os investimentos representam menos de 10% do patrimônio total, estimado em R$ 1,4 bilhão, e que instaurou processo interno para analisar a conformidade das aplicações. Em nota, o instituto afirmou que a exoneração de Ronnie “não teve relação” com as investigações do Banco Master e que mantém contato com reguladores federais para acompanhar a devolução de recursos.
Paralelamente, Ronnie Reyner Teixeira Mota responde a ação judicial movida pela Arquidiocese de Maceió contra ele e o padre Walfran Fonseca, ex-tesoureiro da Fundação Recriar, entidade beneficente vinculada à Igreja Católica para recuperação de dependentes químicos. A ação, ingressada em abril de 2025, cobra prestação de contas de cerca de R$ 3,2 milhões em emendas parlamentares, alegando indícios de irregularidades.
Parte significativa desses recursos, cerca de R$ 1,7 milhão, foi destinada por JHC entre 2018 e 2020, quando exercia mandato como deputado federal. Após Ronnie assumir o conselho fiscal da Fundação Recriar, houve contratação da empresa Consult Talentos, cuja sócia é Renata Mota, irmã de Ronnie. A arquidiocese destacou na ação: “O ato de substituição da parceria presente no projeto inicial, consistente na contratação da empresa de irmã do presidente do conselho fiscal, atrai o interesse de investigação sob o pálio de favorecimento e até mesmo de desvio de valores e da finalidade estatutária da Fundação Recriar”.
Ronnie defendeu-se afirmando que a fundação captou emendas de diversos parlamentares de forma isonômica e que o conselho fiscal “nunca teve o poder de decidir quem seria contratado ou não”. Sobre a ação, classificou como “uma briga interna na Igreja” e confiou na Justiça para decisão favorável. Ele não comentou os investimentos no Banco Master, orientando consulta à atual gestão do Iprev.
O prefeito JHC não se manifestou sobre as emendas destinadas à Fundação Recriar. O caso ganha repercussão em meio à liquidação do Banco Master, que expôs exposições de diversos regimes próprios de previdência social (RPPS) em títulos sem cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). O Iprev Maceió figura como um dos maiores aplicadores municipais, atrás apenas de instituições como Rioprevidência (RJ) e Amprev (AP).
Oposição na Câmara de Vereadores de Maceió, incluindo o ex-prefeito Rui Palmeira (PSD), cobra investigações, enquanto o instituto reforça que os pagamentos a aposentados e pensionistas estão garantidos.
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