Banco Central divulga ata que elevou Selic a 15% e sinaliza pausa estratégica
Copom adota postura cautelosa diante de inflação persistente, desancoragem de expectativas e incertezas globais
Na 271ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada nos dias 17 e 18 de junho de 2025, no Banco Central do Brasil (BCB), em Brasília, o colegiado decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto percentual, de 14,75% para 15% ao ano, alcançando o maior patamar desde 2006.
Essa decisão, que marca a sétima alta consecutiva, reflete a necessidade de combater uma inflação persistentemente acima da meta, expectativas de inflação desancoradas e um cenário econômico doméstico e internacional repleto de desafios.
A ata do Copom, divulgada pelo BCB nesta terça-feira, 24, revelou um tom cauteloso, com a sinalização de uma possível interrupção no ciclo de aperto monetário para avaliar os impactos acumulados, mas reforçou que a taxa de juros deve permanecer em "nível significativamente contracionista" por um período prolongado.
O cenário econômico segundo o Copom
O Copom detalhou na ata que a inflação cheia e os núcleos de inflação continuam acima da meta de 3%, fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), com banda de tolerância entre 1,5% e 4,5%. As projeções do comitê, baseadas no cenário de referência, apontam para um IPCA de 4,9% em 2025 e 3,6% em 2026, indicando que a convergência para o centro da meta ainda é um desafio. A inflação de preços livres está projetada em 5,2% para 2025 e 3,4% para 2026, enquanto os preços administrados devem atingir 3,8% e 4,1%, respectivamente, no mesmo período. Esses números refletem a pressão inflacionária persistente, especialmente em serviços, que apresentam maior inércia devido ao hiato positivo do produto.
A desancoragem das expectativas de inflação foi um ponto de grande preocupação para o Copom. Segundo a pesquisa Focus, as projeções de mercado para o IPCA estão em 5,2% para 2025 e 4,5% para 2026, bem acima da meta. Essa desancoragem, conforme destacado na ata, eleva o custo da desinflação em termos de atividade econômica, exigindo uma política monetária mais restritiva por um período mais longo. O comitê enfatizou que a convergência da inflação à meta depende de uma postura firme para combater essas expectativas desalinhadas.
No cenário doméstico, o Copom observou que a economia brasileira mantém certo dinamismo, mas com sinais de moderação. O PIB do primeiro trimestre de 2025 mostrou crescimento robusto na agropecuária, um setor menos sensível ao ciclo econômico, mas outros setores, como indústria e serviços, apresentaram desaceleração. O consumo das famílias, impulsionado pelo mercado de trabalho aquecido e pela renda em crescimento, e o mercado de crédito, apesar de sinais recentes de inflexão, continuam a sustentar a demanda agregada. A ata destacou que a redução dessa demanda é essencial para o reequilíbrio entre oferta e demanda e para a convergência da inflação à meta.
O mercado de trabalho, com taxa de desemprego em níveis historicamente baixos e ganhos reais de renda acima da produtividade, foi identificado como um dos principais vetores de pressão inflacionária. Embora haja sinais iniciais de desaceleração nos rendimentos, o dinamismo do emprego formal continua a sustentar o consumo. O Copom espera que os efeitos da política monetária restritiva se intensifiquem nos próximos trimestres, impactando o mercado de trabalho e a demanda agregada.
O mercado de crédito também foi analisado. Apesar de ter se mantido pujante nos últimos trimestres, o crédito bancário começou a mostrar sinais de contração, com aumento das taxas de juros, redução no apetite ao risco pelos bancos e menor ritmo de concessões, especialmente no crédito livre. O crédito direcionado, por outro lado, mantém resiliência. Entre as pessoas físicas, o comprometimento da renda com dívidas aumentou, e o fluxo de crédito negativo — quando os pagamentos superam as contratações — se aprofundou, indicando um arrefecimento no consumo financiado.
A política fiscal também entrou na pauta do Copom, que reforçou a importância de medidas contracíclicas para reduzir o prêmio de risco e apoiar o processo de desinflação. A ata alertou que a falta de reformas estruturais, o aumento de crédito direcionado e incertezas sobre a sustentabilidade da dívida pública podem elevar a taxa de juros neutra da economia, reduzindo a potência da política monetária e aumentando o custo da desinflação. O comitê destacou a necessidade de harmonia entre as políticas fiscal e monetária para garantir a estabilidade econômica.
Cenário internacional e riscos
O Copom descreveu o ambiente externo como "adverso e particularmente incerto", com destaque para as políticas comercial e fiscal dos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump. A imposição de tarifas comerciais gerou volatilidade nos mercados globais, afetando as condições financeiras e exigindo maior cautela de países emergentes como o Brasil. Embora tenha havido uma reversão parcial dessas tarifas, a incerteza persiste, especialmente em relação à trajetória fiscal norte-americana e aos impactos de conflitos geopolíticos no Oriente Médio, que podem pressionar os preços do petróleo.
A ata mencionou que os choques de aversão a risco alteraram as correlações usuais entre ativos, incluindo moedas, o que torna mais complexo prever os impactos na economia brasileira. Apesar de o Brasil parecer menos afetado pelas tarifas em comparação com outros países, o cenário global adverso continua a gerar desafios. O Copom enfatizou que o compromisso dos bancos centrais com metas de inflação é crucial para o processo desinflacionário global, destacando os ciclos cautelosos de distensão monetária em outros países.
O balanço de riscos para a inflação foi considerado mais elevado que o usual, com fatores de alta e baixa. Entre os riscos de alta, o comitê destacou: (i) a desancoragem prolongada das expectativas de inflação; (ii) maior resiliência na inflação de serviços devido a um hiato do produto positivo; e (iii) políticas econômicas internas e externas com impactos inflacionários maiores que o esperado, como uma depreciação persistente do real. Já os riscos de baixa incluem: (i) uma desaceleração econômica doméstica mais forte; (ii) uma desaceleração global devido a choques comerciais; e (iii) quedas nos preços de commodities com efeitos desinflacionários.
Reações do mercado e análises externas
A decisão de elevar a Selic para 15% surpreendeu parte do mercado, já que 27 de 39 economistas consultados pela Reuters, conforme publicado em 18 de junho de 2025, esperavam a manutenção da taxa em 14,75%. No entanto, a sinalização de uma pausa no ciclo de altas foi bem recebida por alguns analistas, que interpretaram a medida como um sinal de prudência. Segundo o jornal Valor Econômico, a curva de juros futuros já precificava a possibilidade de manutenção da Selic em 15% até o final de 2025, com cortes de até 200 pontos-base projetados para 2026, conforme estimativas do Itaú Unibanco.
No X, as reações foram variadas. O usuário @TonyVolpon, economista e ex-diretor do BCB, destacou que o Copom minimizou os impactos contracionistas de uma possível guerra tarifária, mas reforçou a preocupação com a desancoragem das expectativas como driver da decisão. Já @Samuelsworld criticou a meta de 3% como "inalcançável" no curto prazo, sugerindo que a manutenção de juros elevados pode comprometer o crescimento sem alcançar a ancoragem esperada. Outros usuários, como @EconomiaBR, apontaram que a recente apreciação do real, que ganhou cerca de R$0,10 frente ao dólar, pode aliviar pressões inflacionárias, mas não elimina os riscos externos.
Analistas da XP Investimentos, em relatório publicado no blog InfoMoney, observaram que o Copom busca evitar debates prematuros sobre cortes de juros, focando na construção de credibilidade para ancorar as expectativas. Já o Estadão destacou que a decisão reflete o esforço do BCB em equilibrar o controle da inflação com a preservação da atividade econômica, em um contexto de pressões domésticas e externas.
Impactos e perspectivas futuras
A elevação da Selic para 15% visa desacelerar a economia para conter a inflação, mas seus efeitos plenos ainda dependem das defasagens de transmissão da política monetária, que o Copom estima se intensificar nos próximos trimestres. A ata reforçou que o arrefecimento da demanda agregada é essencial para reequilibrar a economia, mas a resiliência do consumo e do mercado de trabalho pode prolongar a necessidade de juros altos.
No curto prazo, os consumidores já sentem os impactos do aperto monetário. O aumento das taxas de juros no crédito eleva o custo de financiamentos, enquanto o comprometimento da renda com dívidas reduz a capacidade de consumo. Setores como comércio e serviços, que dependem da demanda interna, podem enfrentar maior desaceleração. No entanto, o Copom destacou que a moderação do crescimento já está em curso, com indicadores recentes de confiança em níveis mais baixos e sinais de arrefecimento na indústria e no comércio.
A sinalização de pausa no ciclo de altas sugere que o Copom pretende avaliar os efeitos acumulados do aperto monetário antes de decidir os próximos passos. A ata enfatizou que a taxa de 15% deve ser mantida por um período prolongado, mas o comitê permanecerá vigilante, pronto para retomar ajustes se o cenário inflacionário exigir. Entre os fatores a serem monitorados estão o ritmo da atividade econômica, o repasse cambial para os preços e a evolução das expectativas de inflação.
No cenário externo, as incertezas relacionadas às políticas de Trump e aos conflitos geopolíticos continuam a desafiar a condução da política monetária. Uma desaceleração global mais intensa ou quedas nos preços de commodities poderiam gerar alívio inflacionário, enquanto uma depreciação do real ou maior resiliência na inflação de serviços podem exigir mais aperto. O Copom também manterá atenção na política fiscal doméstica, cuja credibilidade é crucial para reduzir o prêmio de risco e apoiar a desinflação.
A decisão do Copom de elevar a Selic a 15% e sinalizar uma pausa reflete o desafio de combater a inflação em um contexto de incertezas globais e dinamismo doméstico. A postura cautelosa do comitê, aliada à vigilância constante, busca ancorar as expectativas e garantir a convergência da inflação à meta, mesmo que a custo de uma política monetária restritiva por tempo prolongado. Para a sociedade brasileira, os próximos meses serão decisivos para avaliar os impactos dessa estratégia na economia real, com reflexos no consumo, no crédito e no crescimento. O equilíbrio entre estabilidade de preços e preservação da atividade econômica permanece no centro das atenções.
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