Banco Central divulga ata do Copom: desafios globais e resiliência doméstica
Copom manteve Selic em 15% diante de incertezas externas e inflação persistente
O Banco Central divulgou nesta terça-feira, 5, a ata da reunião do Copom, que manteve a Selic a 15%. A economia brasileira enfrenta um cenário complexo em 2025, marcado por incertezas globais e pressões internas que desafiam a condução da política monetária. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu, em sua reunião de 29 e 30 de julho, manter a taxa Selic em 15% ao ano, sinalizando uma postura de cautela em meio a um ambiente externo adverso e a uma inflação doméstica acima da meta.
A decisão reflete a necessidade de uma política monetária significativamente contracionista para conter pressões inflacionárias, enquanto o mercado de trabalho mantém dinamismo e a atividade econômica mostra sinais de moderação. Este panorama, detalhado na ata do Copom e em análises de instituições como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Ministério da Fazenda, aponta para um equilíbrio delicado entre crescimento econômico e controle da inflação.
Cenário externo: incertezas e impactos comerciais
O ambiente global em 2025 está mais adverso, impulsionado por tensões comerciais e geopolíticas, especialmente relacionadas às políticas econômicas dos Estados Unidos. A possibilidade de aumento de tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil, como destacado na ata do Copom, eleva a incerteza e pode impactar setores estratégicos, como o agronegócio e a indústria. Essas medidas, somadas à volatilidade nos preços das commodities e à política fiscal norte-americana, têm gerado reflexos nas condições financeiras globais, afetando a taxa de câmbio e os preços de ativos financeiros. O dólar, projetado pelo mercado em R$ 5,65 para o fim de 2025, reflete essas pressões, embora tenha apresentado queda de 10,2% frente ao real neste ano, segundo o Boletim Focus.
O Ipea alerta que o aumento das tarifas comerciais pelos EUA, combinado com uma possível desregulamentação e redução de impostos no país, pode compensar os efeitos de uma política monetária menos restritiva, mantendo o dólar estável. Para o Brasil, isso implica desafios, mas também oportunidades. O Ministério da Fazenda sugere que o país pode atrair investimentos produtivos e ocupar novos mercados, especialmente se outras nações buscarem diversificar fornecedores em meio à guerra comercial. No entanto, a desaceleração da economia chinesa e a menor demanda por commodities podem limitar esses ganhos, exigindo cautela.
VEJA ABAIXO A ÍNTEGRA DA ATA DO COPOM:
Cenário doméstico: moderação com resiliência
No front interno, a economia brasileira mantém crescimento, mas com sinais de desaceleração. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025, impulsionado pelo setor agropecuário (alta de 12,2%) e pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), com aumento de 3,1%. O Ipea projeta um crescimento de 2,4% para o ano, enquanto o Ministério da Fazenda estima 2,4%, e o mercado, segundo o Boletim Focus, aponta para 2,2%. Para 2026, as projeções variam entre 1,83% e 2%, indicando um ritmo mais lento.
O mercado de trabalho continua robusto, com a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos e ganhos reais de renda acima da produtividade, o que sustenta o consumo. No entanto, indicadores apontam moderação no crescimento, com desaceleração na população ocupada e na massa salarial, conforme destacado pela Secretaria de Política Econômica (SPE). Essa dinâmica é vista como resposta defasada à política monetária contracionista iniciada em setembro de 2024, que elevou a Selic de 10,5% para 15%. O Copom avalia que essa moderação é necessária para abrir o hiato do produto e facilitar a convergência da inflação à meta de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual.
Inflação: pressões persistentes e expectativas desancoradas
A inflação segue como principal preocupação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 5,17% em 2025, segundo o Boletim Focus, acima da meta de 3%. Para 2026, a projeção é de 4,5%. O Ipea revisou suas estimativas para 5,2% em 2025 e 3,6% em 2026, enquanto o Banco Central projeta 4,9% e 3,6%, respectivamente. A inflação de serviços, impulsionada pelo mercado de trabalho aquecido, permanece elevada, com inércia que dificulta a convergência à meta. Apesar de surpresas baixistas recentes nos preços de alimentos e bens industriais, os núcleos de inflação continuam acima do desejado, exigindo uma política monetária restritiva por período prolongado.
A desancoragem das expectativas de inflação, destacada pelo Copom, aumenta o custo do processo de desinflação, que pode impactar a atividade econômica. A valorização do dólar no fim de 2024, de R$ 5,75 para R$ 6,29, pressionou preços de bens comercializáveis, enquanto choques climáticos e a depreciação cambial afetaram alimentos e combustíveis. Para 2025, espera-se alívio na inflação de alimentos devido a uma safra de grãos 6% maior, mas a inflação de serviços e bens industriais deve continuar desafiando o Banco Central.
Política monetária: cautela e vigilância
A decisão do Copom de manter a Selic em 15% reflete a necessidade de observar os efeitos acumulados do ciclo de aperto monetário, iniciado em setembro de 2024. A ata do comitê enfatiza que a taxa deve permanecer em patamar contracionista por um período prolongado para reancorar as expectativas de inflação. A interrupção do ciclo de alta, após cinco aumentos consecutivos, visa avaliar os impactos na economia real, mas o Copom mantém a possibilidade de novos ajustes caso a inflação não mostre sinais de convergência.
O mercado de crédito já reflete o aperto monetário, com redução nas concessões de crédito livre, aumento da inadimplência e elevação do comprometimento de renda das famílias com dívidas. Medidas como o consignado privado tiveram impacto menor que o esperado, reforçando a necessidade de monitoramento. Por outro lado, a política fiscal expansionista tem sustentado a demanda agregada, mas o Copom alerta que a falta de reformas estruturais e o aumento do risco fiscal podem elevar a taxa de juros neutra, reduzindo a eficácia da política monetária.
Riscos e perspectivas
O Copom identificou riscos de alta e baixa para a inflação. Entre os riscos de alta, destacam-se a persistência da desancoragem das expectativas, a resiliência da inflação de serviços e os impactos de políticas comerciais externas. Entre os riscos de baixa, estão uma desaceleração econômica mais intensa, global ou doméstica, e a queda nos preços de commodities. O comitê seguirá monitorando o ritmo da atividade econômica, o repasse cambial e as expectativas de inflação, que permanecem desancoradas.
A Eurasia Group rebaixou a perspectiva de longo prazo do Brasil para negativa, citando riscos políticos, dificuldades fiscais e o protecionismo comercial dos EUA. Apesar disso, a resiliência do mercado de trabalho e o crescimento do PIB acima do esperado no início de 2025, como apontado pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), sugerem que a economia brasileira pode enfrentar os desafios com certa robustez, desde que as políticas monetária e fiscal sejam harmoniosas.
O Brasil navega em 2025 com crescimento econômico moderado, impulsionado pelo agronegócio e pela demanda interna, mas enfrenta pressões inflacionárias e incertezas globais. A manutenção da Selic em 15% pelo Copom reflete a prioridade de conter a inflação, mesmo ao custo de desaceleração econômica. A vigilância do Banco Central, aliada a uma política fiscal crível, será crucial para reancorar as expectativas e garantir a estabilidade. Enquanto o cenário externo exige cautela, o Brasil tem a oportunidade de atrair investimentos e expandir mercados, desde que consiga equilibrar os desafios internos e externos.
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