Atlas da Violência 2025: Trânsito brasileiro registra aumento de mortes e expõe impactos da extinção do DPVAT
Relatório inédito do Ipea e FBSP revela crescimento de 2,9% nas vítimas fatais e destaca a falta de assistência às vítimas após o fim do seguro obrigatório
O trânsito brasileiro, um dos mais violentos do mundo, voltou a registrar aumento no número de vítimas fatais em 2024, segundo o Atlas da Violência 2025, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Divulgado em 12 de maio, o relatório trouxe, pela primeira vez, um recorte específico sobre a violência no trânsito, apontando um crescimento de 2,9% nos óbitos: de 33.894 em 2023 para 34.881 em 2024. Os dados reforçam a urgência de medidas efetivas, especialmente no contexto do Maio Amarelo, movimento que neste ano adota o tema “Mobilidade Urbana, Responsabilidade Humana”.
Tocantins lidera ranking de mortes no trânsito
O estudo revelou que o Tocantins é o estado com a maior taxa de óbitos no trânsito por 100 mil habitantes, registrando uma média de 33,9 casos. Em seguida, aparecem Mato Grosso (33,6) e Piauí (30,3), estados que enfrentam desafios estruturais como estradas precárias e fiscalização insuficiente. Esses números acendem um alerta para a necessidade de políticas públicas regionais que priorizem a segurança viária e a conscientização de motoristas, pedestres e ciclistas.
Fim do DPVAT agrava vulnerabilidade das vítimas
Um dos pontos mais críticos levantados pelo Atlas da Violência é o impacto da extinção do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT), em 2020, durante o governo Jair Bolsonaro. Criado em 1974, o DPVAT garantia indenizações por morte, invalidez permanente e despesas médicas, independentemente de quem fosse o responsável pelo acidente. Com sua extinção, a capacidade de atendimento às vítimas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi reduzida, e as indenizações às famílias, especialmente às mais vulneráveis, foram praticamente eliminadas.
“A extinção do DPVAT reduziu a capacidade de atendimento às vítimas no SUS e eliminou a indenização às famílias, o que agrava ainda mais a situação das populações mais vulneráveis”, destaca o relatório. Lucio Almeida, presidente da ONG Centro de Defesa das Vítimas de Trânsito (CDVT), é enfático: “É inadmissível que um país com um dos trânsitos mais violentos do mundo desampare suas vítimas dessa forma.”
Tentativas de solução e desafios políticos
Após a extinção do DPVAT, as vítimas passaram a depender de um fundo remanescente do seguro, mas os recursos são insuficientes. Em abril de 2023, já no governo do presidente Lula, foi proposta a criação do Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito (SPVAT). Contudo, a iniciativa foi revogada em dezembro de 2024, frustrando expectativas de um novo mecanismo de proteção.
A CDVT tem se mobilizado para sensibilizar a classe política sobre a importância de um sistema que garanta suporte às vítimas. Entre as medidas defendidas pela ONG estão a indenização por óbito para apoiar famílias que perdem seus provedores, o reembolso de despesas médicas para cobrir hospitalização, medicamentos e reabilitação, além de auxílio financeiro para custear despesas funerárias. “Seja motorista, passageiro ou pedestre, todos têm direito a um respaldo digno em caso de acidente”, afirma Almeida.
Maio Amarelo e a busca por conscientização
A divulgação dos dados coincide com o Maio Amarelo, campanha nacional que busca reduzir acidentes por meio da educação e da responsabilidade coletiva. O aumento das mortes no trânsito reforça a relevância do movimento, que neste ano enfatiza a conexão entre mobilidade urbana e comportamento humano. Especialistas apontam que, além de políticas públicas, é essencial investir em infraestrutura, fiscalização e campanhas educativas para reverter o cenário de violência nas ruas e rodovias.
O Atlas da Violência 2025 serve como um chamado à ação para governos, sociedade civil e cidadãos. A combinação de dados alarmantes com a ausência de um mecanismo como o DPVAT expõe a fragilidade do sistema de proteção às vítimas de trânsito no Brasil. Enquanto soluções estruturais não são implementadas, o país segue enfrentando as consequências de um trânsito que mata, mutila e deixa milhares de famílias desamparadas.
Palavras-chave: Atlas da Violência, trânsito brasileiro, DPVAT, SPVAT, Maio Amarelo, vítimas de trânsito, Tocantins, segurança viária, Ipea, FBSP.
Hashtags: #PainelPolitico #AtlasDaViolência #TrânsitoBrasileiro #DPVAT #MaioAmarelo #SegurançaViária #VítimasDeTrânsito