Atentado contra Miguel Uribe Turbay reacende temores de violência política na Colômbia
Senador e pré-candidato à presidência foi baleado em Bogotá; governo oferece recompensa de US$ 730 mil por mandantes do crime
No último sábado, 7 de junho de 2025, a Colômbia foi abalada por um atentado a tiros contra o senador e pré-candidato à presidência Miguel Uribe Turbay, de 39 anos, durante um evento de campanha no bairro de Fontibón, em Bogotá. O ataque, que deixou o político em estado crítico, reacendeu o espectro da violência política que marcou o país nas décadas de 1980 e 1990, trazendo à tona memórias de um período sombrio de assassinatos de líderes políticos.
O governo colombiano, liderado pelo presidente Gustavo Petro, anunciou uma recompensa de cerca de US$ 730 mil (aproximadamente R$ 4 milhões) por informações que levem à identificação dos mandantes intelectuais do crime, enquanto um adolescente de 15 anos foi detido como suspeito de ser o atirador.
O atentado e o estado de saúde de Uribe
Miguel Uribe Turbay, filiado ao partido Centro Democrático, de oposição ao governo Petro, foi atingido por dois tiros na cabeça e um na coxa enquanto discursava no Parque El Golfito, em Modelia, Bogotá.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o momento exato do ataque, com o senador sendo socorrido em estado grave, ensanguentado, enquanto apoiadores tentavam conter o pânico. Levado à Fundação Santa Fé de Bogotá, Uribe passou por uma cirurgia neurocirúrgica e vascular de mais de três horas na madrugada de domingo (8).
Segundo o boletim médico, seu estado é de “máxima gravidade”, com prognóstico reservado. María Claudia Tarazona, esposa do senador, usou as redes sociais para pedir orações, afirmando que Uribe “está lutando por sua vida” e que precisa de um “milagre” para sobreviver.
Reações e investigações
O presidente Gustavo Petro condenou o atentado de forma categórica, classificando-o como “um ataque não apenas à integridade pessoal do senador, mas também à democracia, à liberdade de pensamento e ao exercício legítimo da política na Colômbia”. Em um pronunciamento, Petro ordenou que todas as agências de inteligência do país atuem com máxima prioridade para identificar os autores intelectuais do crime, exigindo “transparência absoluta” nas investigações. O ministro da Defesa, Pedro Sánchez, anunciou que mais de 100 investigadores da Polícia Nacional, em coordenação com a Procuradoria-Geral, estão mobilizados para esclarecer o caso. Um adolescente de 15 anos, detido no local com uma pistola Glock 9 mm, é o principal suspeito de ser o executor do atentado. A Unidade Nacional de Proteção (UNP) informou que um dos seguranças de Uribe respondeu ao ataque, ferindo o jovem na perna e entregando-o à polícia.
Petro sugeriu que o uso de um menor de idade no crime segue um padrão histórico de violência política na Colômbia, onde jovens de famílias pobres são frequentemente recrutados por grupos criminosos. “Não podemos falar. Suspeitas temos todas, eu tenho as minhas, os patrões do crime repetem os padrões das mortes das maiorias dos dirigentes políticos da Colômbia”, afirmou. Ele também rechaçou tentativas de politização do atentado, pedindo que a prioridade seja a preservação da vida, incluindo a do jovem suspeito, para evitar que ele seja silenciado antes de revelar possíveis mandantes.
Contexto político e tensões com a reforma trabalhista
O atentado ocorre em um momento de alta tensão política na Colômbia, marcado por embates entre o governo de Gustavo Petro e a oposição, liderada pelo Centro Democrático, fundado pelo ex-presidente Álvaro Uribe Vélez. Horas antes do ataque, Miguel Uribe publicou um vídeo nas redes sociais anunciando que processaria os ministros do governo Petro que assinassem um decreto para convocar uma consulta popular sobre a reforma trabalhista proposta pelo presidente. A reforma, que prevê aumento de direitos trabalhistas, como pagamento maior por horas noturnas, domingos e feriados, foi rejeitada pelo Senado em abril de 2025, e a proposta de consulta popular também foi barrada. Petro, no entanto, insiste em implementar a consulta por decreto, o que gerou acusações de possível crise constitucional por parte de juristas e opositores.
O senador Uribe, conhecido por sua postura crítica ao governo Petro, especialmente em temas como segurança e economia, tornou-se uma figura central na oposição. Sua ascensão política é marcada por uma trajetória de destaque: foi vereador em Bogotá (2012-2015), secretário de Governo da cidade (2016-2019) e o senador mais votado do país em 2022, com 226.922 votos. Sua pré-candidatura à presidência em 2026 o colocava como um dos favoritos na corrida eleitoral, ampliando a relevância do atentado no contexto político colombiano.
Um passado marcado pela violência
Miguel Uribe Turbay carrega um sobrenome de peso na política colombiana. Ele é neto de Julio César Turbay Ayala, presidente da Colômbia entre 1978 e 1982 pelo Partido Liberal, e filho de Diana Turbay, renomada jornalista sequestrada em 1990 pelo grupo Extraditáveis, liderado por Pablo Escobar, e assassinada em 1991 durante uma tentativa de resgate. O crime, que chocou o país, foi narrado por Gabriel García Márquez em seu livro Notícia de um Sequestro. Aos cinco anos, Uribe perdeu a mãe, um evento que ele próprio afirmou ter moldado sua trajetória: “Eu poderia ter crescido buscando vingança, mas decidi fazer a coisa certa: perdoar, mas nunca esquecer.”
A violência política não é novidade na Colômbia. Nos últimos 50 anos, o país registrou assassinatos de candidatos presidenciais como Luis Carlos Galán (1989), Bernardo Jaramillo Ossa e Carlos Pizarro Leongómez (1990), além de tentativas contra Álvaro Uribe. O ataque a Miguel Uribe, com características semelhantes ao atentado contra Galán, reforça o temor de que a violência política esteja ressurgindo, especialmente às vésperas das eleições presidenciais de 2026.
Repercussão internacional e interna
O atentado gerou condenações de líderes regionais e internacionais. O presidente do Chile, Gabriel Boric, afirmou que “em uma democracia, a violência não tem lugar nem justificativa”. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, foi além, atribuindo o ataque à “retórica violenta esquerdista” do governo Petro, o que intensificou as críticas contra o presidente colombiano. Petro respondeu chamando tais acusações de “oportunistas” e reiterou seu compromisso com a paz e o debate democrático. Organismos como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Human Rights Watch também expressaram preocupação com o recrudescimento da violência política no país.
Internamente, o partido Centro Democrático classificou o ataque como “um atentado contra a democracia e a liberdade”. Apoiadores de Uribe realizaram manifestações em Bogotá, Medellín e Cali, segurando bandeiras colombianas e gritando “Força, Miguel!”. A procuradora-geral, Luz Adriana Camargo Garzón, descreveu o episódio como um “ataque às formas de participação democrática” e pediu medidas para proteger o processo eleitoral de 2026.
Ameaças ao governo e medidas de segurança
No domingo (8), a Presidência da Colômbia revelou que a filha de Petro e familiares de ministros do governo receberam ameaças, reforçando a hipótese de que o atentado contra Uribe pode estar ligado a uma tentativa de desestabilizar o governo. O Conselho de Segurança da Colômbia determinou a ampliação da proteção a membros da oposição e às famílias de autoridades governamentais. Petro cancelou uma viagem à França, onde participaria da Cúpula da ONU sobre os Oceanos, para acompanhar as investigações.
Um país em reflexão
O atentado contra Miguel Uribe Turbay não apenas abalou a Colômbia, mas também trouxe à tona feridas históricas de um país que luta para superar décadas de violência política e narcotráfico. Enquanto Uribe permanece na UTI, a sociedade colombiana se mobiliza em apoio ao senador e exige justiça. A investigação, que envolve análise de câmeras de segurança, depoimentos de testemunhas e buscas por possíveis conexões com grupos criminosos, será crucial para determinar se o ataque foi motivado por disputas políticas, interesses econômicos ou outros fatores. A Colômbia, mais uma vez, enfrenta o desafio de proteger seus líderes e consolidar a democracia em meio a um clima de polarização e incertezas.
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