Assassinato de prefeita em Oaxaca expõe crise de violência política no México
Ataque a tiros em San Mateo Piñas reforça o impacto do crime organizado sobre lideranças locais e aumenta a pressão por justiça em um país marcado por impunidade
No último domingo, 15 de junho de 2025, a cidade de San Mateo Piñas, no estado de Oaxaca, sul do México, foi palco de um crime que chocou o país: a prefeita Lilia Gema García Soto foi assassinada a tiros dentro de seu gabinete na sede do governo municipal. O ataque, perpetrado por quatro homens armados, também vitimou Elí García, representante da comunidade de Agua Caliente, e deixou dois policiais municipais feridos.
A ação, marcada por sua ousadia, reacende o debate sobre a escalada da violência política e a influência do crime organizado no México, um problema que se intensifica desde o início da operação antidrogas militarizada em 2006.
Segundo informações da polícia estadual de Oaxaca, os criminosos chegaram ao palácio municipal a bordo de duas motocicletas. Eles ameaçaram os seguranças, invadiram o gabinete da prefeita e abriram fogo, fugindo em seguida nos mesmos veículos. A motivação do crime ainda não foi oficialmente esclarecida, mas a natureza do ataque sugere a atuação de grupos ligados ao crime organizado, uma ameaça constante a autoridades locais no país. O Ministério Público de Oaxaca abriu uma investigação, e a Secretaria da Defesa Nacional montou uma operação para localizar os responsáveis, conforme anunciado pelas autoridades.
O governador de Oaxaca, Salomón Jara, manifestou-se na rede social X, condenando o assassinato: "Não pode haver impunidade para este acontecimento." A declaração reflete o clamor por justiça em um país onde a taxa de resolução de crimes é extremamente baixa, com cerca de 95% dos casos permanecendo sem solução, segundo o think tank México Evalúa. A hashtag #JusticiaParaLiliaGema ganhou tração nas redes sociais, com usuários como @maribelmruiz lamentando a perda e destacando a coragem de García Soto ao exercer um cargo público em um contexto de alta violência.
San Mateo Piñas, um município de cerca de 2.000 habitantes, é a segunda cidade de Oaxaca a registrar o assassinato de um líder político em menos de um mês. Em 15 de maio de 2025, o prefeito de Santiago Amoltepec, Mario Hernández, foi morto em uma emboscada, evidenciando a vulnerabilidade de autoridades locais. Desde 2006, quando o governo mexicano intensificou sua estratégia militar contra o narcotráfico, o país acumula mais de 450 mil homicídios, muitos ligados ao crime organizado. A violência política, em particular, tem crescido, com 63 pessoas envolvidas em processos eleitorais assassinadas entre junho de 2023 e maio de 2024, segundo o Laboratorio Electoral.
A capital, Cidade do México, também não está imune. Há cerca de um mês, dois assessores próximos da prefeita Clara Brugada, Ximena Guzmán e José Muñoz, foram mortos a tiros em uma avenida central. O ataque, ocorrido em 20 de maio de 2025, foi descrito por especialistas como uma possível retaliação de grupos criminosos afetados por ações policiais. A presidente Claudia Sheinbaum, do partido Morena, ao qual Brugada também pertence, classificou o episódio como "deplorável" e prometeu apoio às investigações. Apesar das promessas, a impunidade persiste, alimentando a desconfiança na capacidade do Estado de conter a violência.
A morte de Lilia García Soto ocorre em um contexto de crise mais ampla. O México enfrenta não apenas a violência política, mas também uma epidemia de feminicídios, com cerca de 10 mulheres assassinadas por dia, segundo a ONU Mulheres. A influenciadora Valeria Márquez, morta em maio de 2025 em Zapopan, Jalisco, durante uma transmissão ao vivo, é outro exemplo recente da brutalidade que afeta figuras públicas. Embora as autoridades investiguem o caso de Márquez como feminicídio, a possibilidade de envolvimento com o crime organizado não foi descartada, ilustrando a complexidade das investigações em um cenário de alta criminalidade.
Especialistas apontam que a militarização iniciada em 2006, sob o ex-presidente Felipe Calderón, contribuiu para a fragmentação dos cartéis, gerando grupos menores, mas igualmente violentos, que disputam controle territorial e influenciam eleições locais. "Grupos criminosos veem as eleições como oportunidades para expandir seus negócios, garantindo impunidade e acesso a recursos públicos", explica Falko Ernst, analista do Crisis Group. Essa dinâmica torna autoridades municipais, como prefeitas e prefeitos, alvos frequentes, especialmente em regiões como Oaxaca, onde a presença do Estado é limitada.
A violência em San Mateo Piñas também reflete a fragilidade da proteção a líderes locais. Apesar de programas federais de proteção a jornalistas e defensores de direitos humanos existirem, não há mecanismos robustos para autoridades municipais, que frequentemente lidam com ameaças sem apoio adequado. A morte de García Soto, eleita em dezembro de 2022, reforça a necessidade de políticas públicas que abordem tanto a segurança quanto as raízes socioeconômicas da violência, como pobreza e corrupção.
Enquanto as investigações seguem, o México enfrenta um momento crítico. A pressão por justiça no caso de Lilia García Soto e de outras vítimas de violência política cresce, mas a história recente sugere que a impunidade pode prevalecer. A sociedade civil, por meio de redes sociais e protestos, continua a exigir mudanças, mas a resolução desses crimes permanece um desafio em um país onde a violência e o crime organizado moldam a realidade política.
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