Ações do Grupo Mateus acumulando queda de 25% após revelação de erro de R$ 1,1 bilhão em estoques
Mercado Sob Pressão: Governança e Transparência em Xeque no Balanço do 3T25 da Rede de Atacarejo
As ações do Grupo Mateus (GMAT3) enfrentam uma das piores semanas de sua história recente na B3, com uma desvalorização acumulada de cerca de 25% desde a divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2025 (3T25), em 13 de novembro. O gatilho para essa turbulência foi a identificação de um erro contábil de R$ 1,1 bilhão na valoração de estoques no balanço patrimonial de 2024, o que expôs fragilidades em controles internos e gerou questionamentos sobre a governança da companhia, controlada pela família de Ilson Mateus. Às 12h40 de sexta-feira, 21 de novembro de 2025, os papéis negociavam em baixa de 2,51%, a R$ 4,96, após uma sequência de sete sessões consecutivas de perdas, incluindo uma queda de 20% nos cinco pregões imediatamente seguintes ao balanço.
O ajuste revelado no relatório trimestral corrigiu o valor das mercadorias estocadas em 2024, que havia sido superavaliado em R$ 1,1 bilhão, passando de R$ 6 bilhões para R$ 4,9 bilhões. Essa retificação impactou diretamente o patrimônio líquido da empresa, reduzindo-o para R$ 9,1 bilhões e resultando em um corte de quase R$ 695 milhões. O erro decorreu de falhas nos cálculos do custo médio das mercadorias vendidas (CMV), um indicador crítico para o setor de varejo, onde margens apertadas dependem de precisão na gestão de inventários.
Embora o tema de deficiências em estoques não seja novidade para o Grupo Mateus, ele ganha contornos mais graves agora. Em maio de 2021, o formulário de referência enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), referente ao exercício de 2020, destacou que a auditoria da época, realizada pela Grant Thornton, identificou 42 deficiências moderadas nos controles internos da companhia. A Grant Thornton atuou como auditora por cinco anos, até ser substituída em 2025 pela Forvis Mazars Auditores, em cumprimento à regra de rotatividade obrigatória. Nos pareceres dos balanços trimestrais de 2025, a nova auditoria não emitiu ressalvas sobre os estoques, mas o anúncio do erro coincidiu com a transição, ampliando as desconfianças do mercado.
Analistas de mercado atribuem parte da reação adversa à forma como a companhia comunicou o problema: de maneira técnica e focada no efeito contábil, sem detalhes suficientes sobre as causas raízes. O Bradesco BBI, em relatório divulgado em 14 de novembro, descreveu os números do 3T25 como “poluídos”, embora os dados ajustados tenham ficado alinhados às expectativas revisadas para baixo. “Embora os números ajustados pareçam não estar muito distantes das expectativas já reduzidas, acreditamos que a série de ajustes/novas informações pode gerar alguma apreensão no mercado, até que sejam devidamente assimiladas. Em nossa opinião, é incerto que o mercado aceite o ajuste de estoque/nova contabilização de aproximadamente R$ 1 bilhão sem questionamentos neste momento – mais detalhes ainda são necessários”, apontou o banco, que manteve a recomendação de outperform (equivalente a compra acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 9.
Do lado operacional, os resultados ajustados do 3T25 revelaram desafios no faturamento do varejo de alimentos, especialmente na região Nordeste, coração das operações da rede. As vendas em lojas iguais (mesmas lojas, excluindo o segmento B2B) caíram 1,1%, ante uma estimativa do Bradesco BBI de 0,7%. Além disso, ajustes retroativos no lucro bruto indicam uma redução de lucratividade de cerca de 0,40 ponto percentual em comparação ao 3T24, comprometendo a comparabilidade histórica. O lucro líquido reportado foi de R$ 850,5 milhões, uma alta de 152,5% em relação ao ano anterior, impulsionada em parte por reversões de provisões em disputas judiciais favoráveis, que reduziram o impacto de impostos.
A Nord Research, por sua vez, adota uma visão mais cautelosa, com recomendação neutra para os ativos GMAT3. A casa de análise reconhece que os resultados ajustados mostraram crescimento em linha com as projeções do mercado, mas os eventos pontuais – incluindo ajustes retroativos por mudanças contábeis – ofuscaram o desempenho positivo. “Daqui para frente, a empresa deverá focar na incorporação do Novo Atacarejo e em potenciais ganhos de sinergia, além da expansão de suas lojas e na consolidação de sua presença em suas regiões de atuação. Também é esperada uma continuidade no aumento de eficiência em suas unidades, com melhora na maturação das mesmas”, destacou a Nord em avaliação recente.
Gestores consultados pelo Valor Econômico enfatizam que riscos em controles internos sempre foram um “desconto” precificado pelo mercado, dado o histórico de bons resultados operacionais do Grupo Mateus, quarto maior atacarejo do Brasil, com 137 lojas nos estados do Maranhão, Pará e Piauí. No entanto, a falta de clareza na teleconferência de resultados, realizada logo após o balanço, alimentou a percepção de opacidade. Desde o anúncio, as ações acumulam desvalorização de 14% em valor de mercado, equivalente a R$ 1,9 bilhão evaporados, com quedas acentuadas de 10,2% em 14 de novembro e 1,96% em 17 de novembro.
O Grupo Mateus, fundado por Ilson Mateus a partir de uma pequena mercearia no Maranhão, emprega mais de 20 mil pessoas e planeja dobrar de tamanho até o fim da década, com foco em expansão e eficiência. Medidas recentes incluem um novo programa de demissão voluntária (PDV) e a venda de imóveis estimada em R$ 1,5 bilhão, aprovadas pelo conselho de administração. Apesar da turbulência, o setor de varejo segue projetando crescimento modesto de 2% em faturamento para 2025, segundo relatórios do Valor Empresas 360, em um contexto de inflação controlada e juros em patamares elevados.
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