A um mês do início do mercado regulado de apostas no Brasil, ANJL lista os cinco principais benefícios e os cinco desafios para o país
A partir de 1º de janeiro, país viverá de forma inédita as vantagens de um ambiente fiscalizado e ao mesmo tempo será testado quanto à sua eficácia
A um mês para o início do ambiente regulamentado de apostas esportivas e jogos on-line no Brasil, a indústria vive com grande expectativa a espera por esse novo divisor de águas para aquele que será o maior mercado da América Latina e entre o terceiro e quarto maior mercado mundial. Nesse cenário, a Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), que representa alguns dos principais players, avalia os cinco principais benefícios esperados e, de outro lado, os cinco desafios que o país ainda precisará enfrentar.
Os 5 principais benefícios para o país:
- Recolhimento de impostos e taxas a serem convertidos para a sociedade: A ANJL estima que, só em 2025, as casas de apostas legalizadas permitirão que os cofres públicos recolham mais de R$ 20 bilhões em impostos e taxas, incluindo as outorgas para a licença federal que terão que ser pagas à União para operarem no Brasil e os 12% de Gross Gaming Revenue (GGR), o que, somando aos impostos tradicionais que as empresas de serviços pagam, resultará em uma carga tributária de cerca de 36%.
- Geração de empregos: Ao contrário do que dizem os que fazem oposição ao mercado, haverá, sim, geração de empregos no país com a instalação das bets legalizadas. A associação estima que pelo menos 60 mil postos sejam gerados, entre diretos e indiretos. Isso porque as atividades das bets impactam uma cadeia de produtos e serviços, em setores como entretenimento, publicidade, Tecnologia da Informação, advocacia, compliance e mídia.
- Mercado transparente e íntegro: A partir de 1º de janeiro, apenas as empresas com o domínio “bet.br” estarão atuando legalmente no Brasil. Dessa forma, finalmente o apostador vai saber, de forma imediata, se está se divertindo em um site sério, regulamentado, que respeita os seus direitos, ou se está em uma plataforma ilegal, que lhe trará sérios riscos financeiros e à sua saúde.
- Segurança para o apostador e proteção aos menores de idade: Infelizmente, sem a regulamentação, o país foi inundado por casas de apostas clandestinas, que não honravam pagamentos a apostadores e permitiam o acesso de crianças e adolescentes. Sob a regulamentação, o apostador terá a segurança de que não será vítima de golpes, pois toda a operação será permanentemente fiscalizada pelo poder regulador. Além disso, o público infantojuvenil não poderá ter acesso aos sites, pois será impedido por meio da implementação de ferramentas, entre elas o reconhecimento facial.
- Benefícios à saúde mental e financeira: só o mercado regulamentado se preocupa com a saúde mental e financeira do apostador. Como previsto pela Lei 14.790/2023, parte dos recursos pagos pelas bets serão destinados ao Ministério da Saúde, para a promoção de políticas públicas de prevenção e combate à ludopatia. Além disso, a legislação prevê rigorosos mecanismos para a exclusão, pelas bets legalizadas, de apostadores que estejam desenvolvendo comportamento compulsivo. Somam-se a essas medidas iniciativas voluntárias da ANJL e de diversas casas de apostas de programas de apoio psicológico.
Os 5 principais desafios para o país:
- Bloqueio efetivo dos sites ilegais: Como reconhecido pela própria Anatel, o Brasil ainda não possui mecanismos de bloqueio efetivo das plataformas ilegais, o que coloca sob sério risco a eficácia do mercado regulado. A ANJL avalia que será necessária uma força-tarefa, envolvendo diversos órgãos de fiscalização, para o combate a esses sites, para que apostadores não os acessem e estejam expostos aos diversos riscos inerentes.
- Taxação excessiva: Ainda em discussão no Congresso Nacional, o Imposto Seletivo, previsto pelo atual projeto da Reforma Tributária, tem o potencial de afastar os operadores mesmo após o início da regulamentação. A experiência internacional mostra que altas cargas tributárias geram baixa canalização de apostadores para o mercado legal. Ou seja, o resultado disso é a expansão das plataformas clandestinas, que não pagam impostos e prometem ganhos maiores. Tudo à margem da lei.
- Proibição da publicidade responsável: Iniciativas no Congresso Nacional ainda tentam proibir totalmente a publicidade feita pelas casas de apostas. Também nesse caso, exemplos de outros países que implementaram tal medida mostram que a principal consequência é o estímulo ao uso de plataformas ilegais. A publicidade responsável é a que diferencia as casas de apostas sérias, legalizadas, das que não são. Sem isso, o apostador fica ainda mais exposto às atuações nocivas à sua saúde e ao seu bolso.
- Manipulação de resultados: Se não houver o bloqueio efetivo aos operadores ilegais, o Brasil continuará exposto a casos de manipulação de resultados de eventos esportivos, em que apenas grupos criminosos e atletas cooptados saem lucrando. Apenas as casas de apostas legalizadas estão comprometidas na luta contra a manipulação, inclusive por meio de parcerias com entidades internacionais de monitoramento e integridade esportivas.
- Conscientização da população: Apostas não são investimento e nem fonte de renda extra. Esta é a principal mensagem que o Brasil precisa continuar passando para a população. Isso só será possível por meio do engajamento da própria indústria e do poder público, de forma a desestimular qualquer comportamento dos apostadores que fuja do padrão, ou seja, do ato de apostar de forma consciente, moderada e apenas como forma de entretenimento.
Previdência quer proibir uso de aposentadorias e pensões em bets
O Ministério da Previdência Social pode proibir o uso de aposentadorias e pensões em sites de apostas esportivas, as bets. De acordo com o ministro Carlos Lupi, uma alternativa legal ainda está sendo estudada e ele espera colocá-la em prática "o mais rápido possível":
"O benefício da Previdência é para a subsistência da pessoa. O desafio da gente é que a gente não pode intervir no dinheiro privado. Mas como os pagamentos têm subsídio do governo, a nossa equipe jurídica está estudando a proibição baseada nisso, de que tem dinheiro do Tesouro e dinheiro público não foi feito pra entrar no jogo".
Lupi fez uma palestra no Instituto dos Advogados do Brasil, no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira e chegou a classificar o mercado das bets como um "sistema mafioso". Em entrevista ao final do evento, também foi enfático: " Eu não quero ser arbitrário, nem autoritário. Eu entendo que é o dinheiro do cidadão, mas eu entendo também que não é para isso que existe aposentadoria e pensão. É para garantir o sistema de sobrevivência da pessoa. E jogo, em nenhuma parte do mundo, é sistema de sobrevivência ".
O ministro argumentou que a medida seria semelhante à proibição do uso dos benefícios assistenciais, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada - BPC. Lupi acrescentou que os bancos têm mecanismo para evitar que os clientes consigam fazer transferências para os sites de aposta: "O banco separa todos os pagamentos. Se você pega seu extrato está lá: mercado, compras, luz. Se proibir, o próprio sistema consegue coibir isso".
De acordo com Lupi, a equipe jurídica do Ministério está avaliando se a proibição pode ser feita diretamente pelo Instituto Nacional de Seguridade Social, via portaria, ou se precisa ser avaliada pelo Conselho Nacional da Previdência.