Semanas atrás, a psicanalista Maria Rita Kehl foi alvo de duras críticas por parte de alguns militantes de esquerda, quando ela criticou o narcisismo dos movimentos identitários e sua dificuldade em horizontalizar uma perspectiva de representação social que universalize a perspectiva humana no mundo. Trata-se de mais uma fissura nas relações políticas entre as diferentes posições do campo progressista no Brasil.
Os recentes casos de “fogo amigo” por parte da esquerda brasileira revelam uma crise mais profunda, que pode ser analisada tanto do ponto de vista teórico quanto político.
No caso da questão teórica, desde o colapso da União Soviética, um projeto de vida, poder e sociedade ruiu perante as estratégias da esquerda mundial. Segundo o historiador Enzo Traverso, em sua obra “Melancolia da esquerda: marxismo, História e Memória” (ed. Âyiné), “a dialética do século XX foi enterrada. Em vez de liberar mais energias revolucionarias, o fim do socialismo de Estado acabou por frear a trajetória histórica do próprio socialismo”. O universalismo da esquerda ruiu ao ponto de se apropriar de uma perspectiva neoliberal do indivíduo enquanto um “lugar de fala”, que inviabiliza um horizonte de lutas e movimentos.
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